Basta entrar numa livraria, secular ou cristã, procurar as prateleiras de livros de auto-ajuda, para lá encontrar inúmeros títulos sobre sucesso.
"Como alcançar sucesso", "Sucesso não é acidente", "Sucesso é ser feliz", "Sucesso não acontece por acaso", "7 passos para o Sucesso", são alguns dos títulos que você poderá encontrar.
A maioria oferece um tipo de receita de bolo, com passos e ingredientes necessários para se obter sucesso.
Até aí, tudo bem. Vamos relevar...
O problema não está na receita em si, mas na definição de sucesso. O que é "sucesso", afinal?
Na óptica do mundo, sucesso pode ser considerado êxito profissional, aquisição de bens de consumo, realização conjugal, etc.
Que definição as Escrituras nos dariam? O que seria "sucesso" na óptica divina?
E mais: Qual seria o aferidor usado por Deus para medir nosso sucesso? Será que Ele se impressionaria com as nossas realizações?
Poderíamos mensurar o sucesso de alguém pelo carro que guia? Ora, o carro novo de hoje, será a lata-velha de amanhã. Não é em vão que se diz que o sucesso é efémero, fugaz. Se a nossa definição de sucesso se ativer à aquisição de bens, ou mesmo à fama, então tal ditado deve ser confirmado. A celebridade de hoje, poderá cair no esquecimento amanhã[...]. Gente que foi sucesso um dia, hoje está abandonada até pela família. [...]
Há, então, um sucesso que não seja passageiro? A resposta é sim!
E se estivermos interessados nesse sucesso, temos que recorrer às Escrituras em busca da sua definição.
Antes de definir "sucesso" na óptica divina, destaquemos dois exemplos bíblicos de sucesso, um segundo Deus, e outro segundo o mundo.
Comecemos pelo exemplo de sucesso segundo Deus: Moisés.
O escritor de Hebreus diz que "pela fé Moisés, sendo já homem, recusou ser chamado filho da filha de Faraó. Escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que, por algum tempo, ter o gozo do pecado. Teve por maiores riquezas o opróbrio de Cristo do que os tesouros do Egipto, porque tinha em vista a recompensa" (Hb.11:24-26).
Quem, em sua sã consciência, recusaria participar da linha sucessória de Faraó? Em termos populares, Moisés estava com a faca e o queijo na mão. Como filho da filha de Faraó, ele era forte candidato ao trono da maior potência do mundo de então. Entretanto, ele abriu mão de tudo isso.
Passou quarenta anos peregrinando com os hebreus pelo deserto do Sinai. Ao morrer, não teve sequer teve uma sepultura digna, como as dos faraós.
É sabido pelos arqueólogos que as famosas pirâmides egípcias foram construídas como gigantescos sarcófagos para os monarcas do Egipto. Nelas eram depositados, não apenas o corpo do rei, mas também todos os seus tesouros. Quanto maior a pirâmide em que fosse sepultado, maior o sucesso que aquele Faraó havia alcançado durante sua gestão como soberano do Egipto.
Porém, Moisés não teve sequer uma sepultura. O texto bíblico apenas indica que o próprio Deus o sepultou, mas seu corpo jamais foi localizado.Moisés trocou o ceptro egípcio por um cajado rústico de pastor. Trocou a vida cómoda dos palácios por uma vida nómada. Alguém se atreveria a dizer que Moisés não obteve sucesso aos olhos de Deus?
A propósito, qual era o nome do Faraó contemporâneo de Moisés?
Alguns milénios se passaram, e pouquíssimas pessoas sabem o nome daquele monarca. Porém, tantos judeus, quanto muçulmanos e cristãos honram o grande libertador e legislador que foi Moisés. Seu nome e sua obra jamais serão esquecidos. Até os ateus reconhecem em Moisés uma das mais importantes e emblemáticas figuras da História. Portanto, podemos afirmar que Moisés foi um homem de sucesso.
Como poderíamos definir "sucesso"?
Ou ainda, como Deus mediria o nosso sucesso? Qual o critério pelo qual alguém é considerado bem-sucedido para Deus?
É notório que o apóstolo mais bem-sucedido foi Paulo. Ninguém fez tanto em tão pouco tempo. Foi o seu empenho que proporcionou que o cristianismo avançasse para além das fronteiras judaicas.
É o mesmo apóstolo que nos revela que o sucesso de alguém é medido pelo número de acções de graça que são dirigidas acerca a Deus.
Ao conclamar a igreja de Corinto a participar na oferta que estava sendo levantada para ajudar os cristãos em Jerusalém, Paulo os estimula, dizendo: "Em tudo sereis enriquecidos para toda a generosidade, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus. A ministração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também transborda em muitas graças, que se dão a Deus. Visto que esta ministração prova que sois obedientes, e seguis o evangelho de Cristo, eles louvarão a Deus. E também louvarão a Deus pela liberalidade das vossas dádivas para com eles, e para com todos. E orarão com grande afecto por vós, por causa da execelente graça que Deus vos deu" (2 Cor. 9:11-14). Para o mundo, o sucesso é medido por aquilo que conseguimos amealhar, pelas riquezas que concentramos em nossas mãos. Para Deus, o sucesso é medido por aquilo que conseguimos distribuir, fazendo com que acções de graça pela nossa vida cheguem constantemente a Ele.
Pouco importa para Deus a marca do carro que dirigimos. O que importa são as pessoas a quem oferecemos boleia, ou a quem socorremoscom o nosso veículo. O que importa não é quantas divisões tem a nossa casa, mas sim quantas pessoas temos hospedado nela. Não importa a marca das nossas roupas, mas aqueles a quem agasalhamos.
Não há oração mais eficaz do que aquela regada de acções de graça.
Quantas pessoas se têm dirigido a Deus em acções de graça pela sua vida? Para quantos sua vida representa o dom dos céus?
A tradição protestante não admite que se faça oração por aqueles que já morreram. Mas nada nos impede de continuar agradecendo a Deus por alguém que já partiu deste mundo.
Quando leio um bom livro de um autor que viveu séculos atrás, eu louvo a Deus pela sua vida, e pelo legado que ele deixou.
Agradeço aos céus pelo pai exemplar que tive, mesmo tendo deixado o mundo há quase oito anos. Embora ele não tenha deixado um grande património para a família, seu maior legado foi seu exemplo de vida, e assim como Abel, mesmo depois de morto, seu testemunho não perdeu a eloquência.
Escrevendo para os cristãos de Tessalónica, Paulo diz: "Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações, lembrando-nos sem cessar da obra da vossa fé, do vosso trabalho de amor e da vossa firmeza de esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai (...) De maneira que fostes exemplo para todos os fiéis..." (1 Ts. 1:2-3,7a). Um pouco mais adiante, nesta mesma epístola, Paulo exclama: "Que ação de graças poderemos dar a Deus por vós, por todo o gozo com que nos regozijamos por vossa causa diante do nosso Deus...?" (3:9).
Paulo não poupou elogios aos irmãos daquela cidade. Aquela poderia ser considerada uma igreja padrão, exemplo para as demais, digna de que por ela se oferecessem acções de graça a Deus.
Conhecendo este princípio, Paulo não se inibe em pedir: "Ajudando-nos também vós com orações por nós, para que por muitas pessoas sejam dadas graças a nosso respeito..." (2 Cor.1:11a). E mais adiante ele arremata: "Tudo isto é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, torne abundantes as ações de graça para a glória de Deus" (4:15).
Em vez de ficarmos por aí, rogando que os irmãos sempre orem por nós, que tal se nos tornarmos motivos de gratidão da parte deles para com Deus? Não será preciso pedir. Eles mesmos, expontaneamente, se lembrarão de nós quando estiverem ante o trono da graça, e agradecerão por nossas vidas.
Isso é sucesso! Que se multiplique o número de acções de graça pela sua vida! E quanto mais formos bênção na vida de outros, mais o Senhor terá prazer em manifestar em e através de nós as Suas bênçãos.
Antes de esperar que outros agradeçam a Deus por sua vida, pare um pouco para pensar, e lembre-se daqueles que têm sido bênçãos em sua vida. Agradeça a Deus por eles.
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Fonte: Hermes Fernandes