terça-feira, 27 de julho de 2010

A Morte de um Ditador

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Perfazem-se hoje 40 anos sobre a morte de António de Oliveira Salazar. A 27 de Julho de 1970 era anunciado ao país a morte do ditador, com a pompa e circunstância que o momento parecia requerer da parte dos responsáveis do regime, pese embora Salazar já não governasse há quase dois anos, devido à famosa queda da cadeira, quando se encontrava de férias no Forte de Sto. António do Estoril, e que o deixou incapacitado para as funções de primeiro-ministro, sendo então substituido por Marcelo Caetano, embora, claro, nunca nenhum dos seus mais próximos colaboradores tivesse a coragem ou ousadia para o informar desse facto.
Para as gerações mais jovens, o nome de Oliveira Salazar não diz provelmente muito. Pessoalmente, habituei-me a ver o seu retrato, pendurado ao lado do de Américo Tomaz, nas paredes das salas de aula da instrução primária, nos lugares públicos, ou estampado em alguns livros de leitura. A minha convivência com o ditador, até aos meus 16 anos, limitou-se a isso e a ouvir do pavor, do medo e do respeito ( pelas piores razões ) que o seu nome inspirava aos mais velhos, em especial aos que eram perseguidos pelo regime que o ditador instaurou num Portugal paupérrimo e cuja acção política e visão para o país eram baseadas na repressão das liberdades individuais dos cidadãos e na perseguição de todos os que ousassem questionar a organização do estado ou o nome de algum dos seus fiéis servidores. O Estado Novo foi imposto ditatorialmente aos portugueses, pelos militares, não o esqueçamos também, na sequência do falhanço rotundo da 1ª República e do autêntico regabofe político que esta trouxe consigo. Por outro lado, o regime instalado em Portugal aproveitou para se consolidar na sequência da onda de outros regimes ditatoriais já existentes, ou que viriam a despontar e implantar-se noutros países da Europa, nomeadamente aqui ao lado em Espanha com Franco, na Itália fascista de Mussolini e na Alemanha Nazi de Hitler.
Em Portugal, como não podia deixar de ser, os cristãos evangélicos sofreram igualmente às mãos da ditadura. Para além de outras acções, mais ou menos gravosas, levadas a cabo pelos representantes do regime de então, muitos dos cultos evangélicos eram acompanhados presencialmente por elementos da PIDE ou da Legião Portuguesa. Curiosamente, ou talvez não, alguns vieram a ter um encontro pessoal com Jesus ao longo da sua missão de "espionagem"das actividades dos protestantes. Neste domínio, o Estado Novo contou também com o apoio da Igreja Católica Romana na perseguição, instigação à perseguição e estigmatização dos evangélicos.Mas isto será matéria para um outro texto repositório da história desse período no que concerne às relações e exposição dos cristãos-evangélicos ao Estado Novo.
Jacinto Lourenço
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Em 1900, após completar os seus estudos na escola primária, com 11 anos de idade, Oliveira Salazar ingressou no Seminário de Viseu, onde permaneceu por oito anos. Em 1908, o seu último ano lectivo no seminário, tomou finalmente contacto com toda a agitação que reinava em Viseu e também em todo o país. Surgiam artigos que atacavam o Governo, o Rei e a Igreja Católica. Foi também nesse ano que se deu o assassínio do Rei D. Carlos e do seu filho, o Príncipe D. Luís Filipe. Não ficando indiferente a esses acontecimentos, Salazar, católico praticante, começou a insurgir-se contra os republicanos jacobinos em defesa da Igreja, escrevendo vários artigos nos jornais. Depois de completar os estudos, permaneceu em Viseu por mais dois anos. Porém, em 1910, mudou-se para Coimbra para estudar Direito. Em 1914, concluiu o curso de Direito com a alta classificação de 19 valores e torna-se, dois anos depois, assistente de Ciências Económicas. Assumiu a presidência da cadeira de Economia Política e Finanças em 1917 a convite do professor José Alberto dos Reis e do professor Aniceto Barbosa, antes de se doutorar em 1918.[...]Com a crise económica e a agitação política da 1ª República (que se prolongou inclusive após o Golpe militar de 28 de Maio de 1926), a Ditadura Militar chamou o Dr.Salazar em Junho de 1926 para a pasta das finanças; passados treze dias renuncia ao cargo e retorna a Coimbra por não lhe haverem satisfeitas as condições que achava indispensáveis ao seu exercício.
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Em 27 de Abril de 1928, após a eleição do Marechal Carmona e na sequência do fracasso do seu antecessor em conseguir um avultado empréstimo externo com vista ao equilíbrio das contas públicas, reassumiu a pasta, mas exigindo o controlo sobre as despesas e receitas de todos ministérios. Satisfeita a exigência, impôs forte austeridade e rigoroso controlo de contas, conseguindo um superavit, um "milagre" nas finanças públicas logo no exercício económico de 1928-29. [...]
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O princípio do fim de Salazar começou a 3 de Agosto de 1968, no Forte de Santo António, no Estoril. A queda de uma cadeira de lona, deixada em segredo primeiro, acabou por ditar o seu afastamento do Governo. António de Oliveira Salazar preparava-se para ser tratado pelo calista Hilário, quando se deixou cair para uma cadeira de lona. Com o peso, a cadeira cedeu e o chefe do Governo caiu com violência, sofrendo uma pancada na cabeça, nas lajes do terraço do forte onde anualmente passava as férias, acompanhado pela governanta D. Maria de Jesus. Levantou-se atordoado, queixou-se de dores no corpo, mas pediu segredo sobre a queda e não quis que fossem chamados médicos, segundo conta Franco Nogueira. Outra testemunha, o barbeiro Manuel Marques, contraria esta tese. Segundo ele, Salazar não caiu na cadeira, que estava fora do lugar, mas tombou no chão desamparado. Ainda outra testemunha diz que Salazar não caiu de uma cadeira, e sim de uma banheira, testemunha essa que acompanhou Salazar da casa de banho até ao quarto no dia do sucedido. A vida de António Oliveira Salazar prosseguiu normalmente e só três dias depois é que o médico do Presidente do Conselho, Eduardo Coelho, soube do sucedido. Só 16 dias depois, a 4 de Setembro, Salazar admite que se sente doente: «Não sei o que tenho». A 6 de Setembro, à noite, sai um carro de São Bento. Com o médico, Salazar e, no lugar da frente, o director da PIDE, Silva Pais. Salazar é internado no Hospital de São José e os médicos não se entendem quanto ao diagnóstico - hematoma intracraniano ou trombose cerebral -, mas concordam que é preciso operar, o que acontece a 7 de Setembro. Foi afastado do Governo em 1968 após ser vitimado por um hematoma craniano, que lhe causou danos cerebrais graves, após a queda, quando passava férias no forte de S. António do Estoril.
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Fonte: Wikipédia