terça-feira, 4 de setembro de 2012

As Fragilidades da Democracia Política


Andava hoje a "passear-me" pelo citador, que tem o condão de nos lembrar coisas interessantes e outras pouco menos que desprezíveis, quando dou de caras com o pequeno excerto (reproduzido abaixo) de um livro de  Aldous Huxlei. Imagino que levado à letra e fora do contexto de toda a temática do livro, que não faz ainda parte do meu portfólio de leituras  mas que movido agora pela curiosidade vou procurar ler, este texto,  pode, aparentemente, validar a opinião de alguns espertos do nosso pequeno microcosmos  político de que o melhor para Portugal seria suspender a democracia por algum tempo até que as coisas entrassem nos eixos ( nos eixos deles, claro...). Ora Portugal, se descontarmos a breve e tragicómica experiência da primeira república, nunca soube verdadeiramente o que é viver em democracia até Abril de 1974. Por mais imperfeito e incapaz que se mostre este sistema político, é o único descoberto até hoje pelos homens capaz de nos conceder, pelo menos, a liberdade de pensar em voz alta aquilo que nos vai na alma. Claro que Aldous Huxlei não deixa de ter razão nalguns aspectos menos conseguidos pela democracia que são aproveitados pelos políticos que esgravatam na fissura da indolência dos povos governados  que, em muitos casos, parecem entrar em negação aceitando placidamente todos os jugos que lhes querem impor mascarados pela necessidade de ultrapassar tormentosas dificuldades fabricadas pelos que repartem o bolo das benesses democráticas. Para os povos, é certo, restará sempre e só a fava. E essa será sempre a deformação de um sistema político humano, qualquer que seja,  que, à imagem do homem imperfeito e carregado de contradições, nunca poderá aspirar à perfeição estando condenado a  contentar-se sempre com o menos mau, que roça muitas vezes o odioso, que, por exemplo, a democracia   política tenha para lhe oferecer. 


Jacinto Lourenço

A Democracia Política Conduz à Ineficiência e Fraqueza de Direcção
Os defeitos da democracia política como sistema de governo são tão óbvios, e têm sido tantas vezes catalogados, que não preciso mais do que resumi-los aqui. A democracia política foi criticada porque conduz à ineficiência e fraqueza de direcção, porque permite aos homens menos desejáveis obter o poder, porque fomenta a corrupção. A ineficiência e fraqueza da democracia política tornam-se mais aparentes nos momentos de crise, quando é preciso tomar e cumprir decisões rapidamente. Averiguar e registar os desejos de muitos milhões de eleitores em poucas horas é uma impossibilidade física. Segue-se, portanto, que, numa crise, uma de duas coisas tem de acontecer: ou os governantes decidem apresentar o facto consumado da sua decisão aos eleitores - em cujo caso todo o princípio da democracia política terá sido tratado com o desprezo que em circunstâncias críticas ela merece; ou então o povo é consultado e perde-se tempo, frequentemente, com consequências fatais. Durante a guerra todos os beligerantes adoptaram o primeiro caminho. A democracia política foi em toda a parte temporariamente abolida. Um sistema de governo que necessita de ser abolido todas as vezes que surge um perigo, dificilmente se pode descrever como um sistema perfeito. 

Aldous Huxley, in "Sobre a Democracia e Outros Estudos"