quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

As igrejas também morrem...

Qual é a finalidade de uma igreja que não vê no Amor a sua principal fonte de subsistência e desenvolvimento?

Esta parece ser a maior interrogação que Cristo lança à igreja de Éfeso, uma das sete igrejas que receberam as cartas que o livro do Apocalipse regista.

Jesus Cristo apontou, na carta à igreja dos Efésios não menos de onze qualidades das mais importantes que qualquer igreja pode e deve possuir .

Com cerca de quarenta anos de existência quando a carta em Apoclipse lhe foi dirigida, e tendo sido doutrinada e ensinada por grandes servos de Deus, a igreja de Éfeso era um baluarte das igrejas da Ásia Menor, tanto do ponto de vista da ortodoxia cristã, como da força da sua fé e da sua pureza doutrinária. A sua “construção” era sólida. A sua teologia parecia ter força e sustentabilidade para lhe proporcionar longevidade. Era uma igreja zelosa, com padrões morais elevados. Não permitia “zonas cinzentas” na adequação dos principios éticos, morais e doutrinários, face à sua posição no mundo de então, um mundo recheado de paganismo, idolatria, perversidade e miséria humana.

A cidade de Éfeso era farta e rica, como é fácil perceber pela sua importância comercial. As suas ruas eram totalmente calcetadas a mármore. Acreditamos que a igreja, nesse ambiente, tivesse algum desafogo material. No entanto, e face à ausência de amor cristão, que lhe é apontada por Jesus, não podemos ter a certeza de que os seus membros mais pobres fossem atingidos por tal desafogo material nas suas mais elementares necessidades.

Pode uma igreja de Cristo subsistir sem Amor ?

Esta foi a única acusação que Jesus lançou à igreja em Éfeso : “tenho porém contra ti que deixas-te o teu primeiro amor”.

Como igreja cristã do primeiro século, Éfeso era um paradigma para todas as igrejas: organização, trabalho, esforço, dedicação, consistência, persistência, sofrimento, zelo, etc. Apesar disso, Jesus encontrou um motivo fortíssimo para a reprovar, sendo que esse motivo pode ser ( é ) mortal para a igreja de qualquer época, porque o Amor cristão é o “combustível” da fé, missão e esperança. O Amor, na igreja, não pode ser negociável. Sem Amor, o conjunto das suas virtudes, por muitas que elas possam ser, não têm qualquer valor. E Porquê ? Pelas razões que Jesus apontou no evangelho de João (versão livre de minha autoria) : “todos conhecerão que somos igreja de Deus se em nós e nas nossas obras persistir o Amor de Deus”.

O que Éfeso tinha de bom ( e era muita coisa ) não era suficiente para que o Cristo ali mantivesse o “Candelabro”, que simboliza a luz da presença de Deus.

A igreja de Éfeso recebeu um ultimato do Senhor Jesus :

Ou se arrependia e retornava ao Amor que já tinha experimentado, ou deixava de ter a Luz de Deus a iluminá-la!

O papel fundamental da igreja não é ser uma organização filantrópica ou uma agência de eventos . O maior poder da igreja não está em servir (-se) ou defender-se, mas antes em amar, e amar com o mesmo Amor com que Jesus nos amou. Sem isso, Éfeso tornou-se uma igreja de fachada. Tornou-se uma igreja obcecada pela “beleza da sua fé” e ficou cega para o Amor em que essa fé devia assentar.

Possuía uma postura firme contra os falsos mestres, defendia-se dos hereges, era doutrinariamente rígida. Mas deixou-se “seduzir por si própria”. Tornou-se uma “igreja narcísica”. Cheia de bons planos e ideias para se defender das armas dos inimigos e para levar os seus eventos a efeito com sucesso. Gente esforçada e trabalhadora, inatacável desses pontos de vista. Em suma : uma instituição cristã com personalidade vincada e sublinhada pelo serviço. Porém Jesus disse-lhe : “ O AMOR NÃO É NEGOCIÁVEL” . Isto é: o Amor não pode ser trocado por nenhuma boa virtude, ortodoxia rígida e inflexível, doutrina ou dom espiritual, como também referiu, aliás, o apóstolo Paulo na sua primeira epístola aos Coríntios no Cap. 13.

“Deitar fora o bebé com a água do banho”

“Quando uma instituição é jovem, ela é flexível, fluida, disposta a tentar tudo pelo menos uma vez. À medida que envelhece diminuem os riscos que quer assumir. A ousadia abre lugar à rigidez. A criatividade desvanece-se e a capacidade de enfrentar novos desafios e direcções é perdida”. Só a Amor pode mudar isto.

Foi o que aconteceu com a igreja de Éfeso: tornou-se auto-centrada, satisfeita com o seu estatuto “espiritual”, mas que tinha perdido o essencial. Quando uma igreja se distancia do Amor, nenhuma suposta espiritualidade pode compensar essa distância. Se uma igreja enfatiza uma coisa em detrimento de outra; se inclui alguma coisa e exclui outra, então “ela estará certa naquilo que inclui mas errada naquilo que exclui”.

O desejo de Cristo não é obviamente retirar aquilo que a igreja tem de bom, mas antes expurgá-la daquilo que não presta e dar-lhe aquilo de que ela carece.

O que se pode constatar em muitas igrejas do nosso tempo, é que são tão sérias doutrinariamente, tão “seguras” dos seus métodos e atitudes, que se tornam rígidas, frias, distantes e dogmáticas. Numa “igreja” com este perfil, o povo, as pessoas, acabam por ser o menos importante; o que conta é a doutrina, a ortodoxia fria e inflexível, o funcionamento “modelar” a imagem, que quer dar de si própria para o exterior. Uma igreja assim, está permanentemente a ser “lavada” pela ortodoxia vigente, mas depois, ao deitar fora a “água da banho”, corre o sério risco de deitar com ela o “bebé” em Cristo.

“Doutrina sem Amor é legalismo”.

“Amor sem Doutrina é laxismo”