segunda-feira, 7 de maio de 2012

O Mundo em Duas Semanas e um Arrepio...


Passaram apenas duas semanas desde que saí. Pensamos sempre que duas semanas pouco podem alterar o rumo de uma vida, de um país, de uma região, do mundo. Mas acho, afinal, que as duas últimas semanas contrariam esta ideia feita, que se calhar era só minha, já que até  Heraclito de Éfeso  dissera há cerca de dois milénios e meio  "não haver nada permanente excepto a mudança"...

No alentejo profundo, a centena e meia de  quilómetros de casa, só pensámos na chuva, que nunca mais parava, no sol que nunca mais vinha, nos passeios  pelos campos floridos daquele atapetado multicolor de que apenas os  campos alentejanos se sabem cobrir  que tardavam em mostrar-se. Tudo trocado, apesar disso, por felizes momentos passados a ouvir o crepitar da lareira e a ler o jornal da semana anterior ao som da chuva a cair do lado de lá da janela, a descansar das rotinas e do stress com que as actividades diárias e o lufa lufa urbano se encarregam de nos repassar. Um pouco de televisão à noite e eis que somos atingidos em cheio pela "bomba" sociológica lançada pelo Pingo Doce. Não tenho muito mais a dizer sobre tal assunto, tudo já foi explorado à exaustão pelos media e comentadores de serviço habituais que são capazes de dizer, sobre um mesmo assunto, a mesma coisa e o seu contrário esperando depois que nós, comuns cidadãos, sejamos todos muito burros e incapazes de perceber o que se passou realmente.
Não me apetece agora discorrer sobre aquilo que, em minha opinião, se passou no dia 1 de Maio de 2012 em Portugal, mas desconfio que o mundo também não estará muito expectante sobre o  que eu tenha para dizer acerca da tal "bomba" sociológica.

O que era expectável foi o que se passou hoje, quando terminaram as minhas férias molhadas, em França e na Grécia. Parece que se fizeram, só em França, 300 e tal sondagens sobre os previsíveis resultados eleitorais para a presidência francesa... O que eu acho espantoso é que praticamente todas davam a vitória a Hollande, tanto na primeira como na segunda volta das eleições, e com erros mínimos nas previsões. Hoje confirmou-se que os franceses são de ideias fixas mas têm certezas não absolutas quanto às suas escolhas, a julgar pela divisão de votos entre os dois candidatos. Já os gregos mantiveram-se fiéis às suas dúvidas e incertezas quanto ao  que querem do futuro, muito embora me pareça que sabem exactamente o que não querem, só que, da soma das suas dúvidas,  sobram-lhes, parece-me, mais problemas que soluções. 

Enquanto eu me recolhia ao calor da minha lareira alentejana e ouvia na rua a chuva a cair sobre a terra sedenta, o mundo, cá dentro e lá fora,  mudava a ritmo acelerado, e de arrepio. Afinal, em duas semanas, o mundo dos homens pode mudar muito mais do que se possa imaginar, mesmo que não tenhamos nenhumas certezas sobre o que é que isso pode significar no futuro imediato para todos nós. Depois, bem, depois temos sempre presentes as palavras de Jesus: "basta a cada dia o seu mal". Talvez a inquietação permanente não deva ser o nosso objectivo principal quando nos levantamos a cada novo dia. Talvez devamos então preferir a esperança e a força vital que nos faz caminhar pelo meio da tempestade sabendo que a seguir a esta virá, quase de certeza, a bonança e que o arco iris trará a mesma certeza de sempre.


Jacinto Lourenço