quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Tempo não é o Verbo...




 Prestes a submeter-me ao balanço torpe do ponteiro dos segundos que me obrigará a uma  viagem no futuro de mais um ano civil, na voragem duma página de calendário , constato que calendários e relógios, continuam a não ser meus amigos, mas pelas razões opostas às da minha infância, adolescência e juventude. Hoje, preferia que eles não se desdobrassem com tanto afinco e pressurosamente nas suas tarefas e que não me galopassem tão avidamente na pista dos anos. É que chegar ao "final" não é, para mim, uma questão de vida ou de morte, até porque o tempo é um valor etéreo, a eternidade e o céu, o firmamento e as estrelas, continuam a ser meus. Não tiro  o chapéu ao tempo com que este ano nos castigou, e não brindo ao que lá vem porque não o conheço e porque não faço do tempo um pequeno deus ou  um ditador implacável ou temível a quem deva oferendas para conseguir  só coisas boas e agradáveis. O tempo, afinal, não é um absoluto nem legado particular de ninguém, é antes um espaço onde a vida de todos se conjuga mediada por  entre dias e noites que se sucedem. No  pretérito, no presente ou no futuro, o tempo é apenas um espectador da passagem imperativa da vida. O tempo não é o Verbo. O tempo é o hiato entre o Alfa e o Omega, onde o Verbo se conjuga em nós.

Jacinto Lourenço