segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A Ironia do Legalismo

Nós devemos tirar o chapéu para os legalistas. São eles os responsáveis por reduzir o Evangelho a um rígido e massacrante código de leis. E isto é um feito e tanto. É como colocar as Cataratas do Iguaçu dentro de uma xícara de café, ou sendo mais fíel a uma expressão bíblica, é por vinho novo em odre velho.O evangelho, ou o pseudo-evangelho, que seus ardilosos pregadores anunciam, é um verdadeiro híbrido, uma mistura bem interessante. Bom, quais são os ingredientes? Uma grande dose de lei mosaica, um punhado de ética-moral estadunidense, raízes fortes do coronelismo nordestino, e não pode falar uma boa dosagem de regras eclesiásticas inventadas por homens. Ah... quase esqueci... uma "pitadinha de nada" da graça para parecer que é Evangelho.Quem toma esta poção envenenada, quem que abraça esta mensagem adulterada, se torna discípulo de Moisés em nome de Jesus. É triste, mas esta é a realidade de muitas comunidades autoritárias.No entanto, este legalismo mortal que embriaga mediante a culpa e o medo, tem seu lado irônico. Foi o teólogo Erasmo de Roterdã (1466-1536) que sacou a ironia deste movimento inimigo da cruz e da graça redentora. Ele diz que os legalistas, estes que se orgulham de sua santidade própria e obediência cega aos códigos da lei, desejam ser mais santos que Jesus. Ora, veja só, como pode isso? É ou não uma ironia? Bom, vou deixar Erasmo explicar melhor: "A maioria desses homens têm tanta confiança em suas cerimônias e pequenas tradições humanas que estão convencidos de que um paraíso é pouco para recompensá-los de uma vida passada na observância dessas coisas. Eles não pensam que Jesus Cristo, desprezando tais práticas vã, lhes perguntará se observam o grande preceito da caridade, sobre o qual está fundada a lei que deu aos homens. Um mostrará a barriga cheia de toda espécie de peixes; outro, a lista dos salmos recitados a tantas centenas por dia; um terceiro fará uma longa enumeração dos jejuns e contará quantas vezes sua barriga esteve a ponto de rebentar por ter feito só uma refeição na jornada; outros dirão que ficaram roucos de tanto cantar. Mas Jesus Cristo, interrompendo enfim essa série inesgotável de presunções, dirá: "Que nova espécie de judeus é essa? Dei somente uma lei aos homens, é a única que reconheço, e a única pela qual essa gente não me fala. Não foi a hábitos, orações, abstinências, dietas contínuas que prometi outra o reino do meu Pai, mas ao exercício de todos os deveres da caridade ... Não reconheço essa gente que se gaba de suas boas obras e quer parecer mais santa que eu. Que vão procurar um paraíso diferente do meu... Quando ouvirem esta sentença e virem que são preteridos por marujos e carroceiros, com que cara imaginais que se olharão uns aos outros?"
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Daniel Grubba
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