quarta-feira, 11 de agosto de 2010

"Não bate a Bota com a Perdigota"...

97% dos juízes tiveram Bom ou Muito Bom...e não Há Medíocres.

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Este título do Semanário Expresso até poderia ser, sobre este mesmo tema, qualquer coisa assim: "Venha para Portugal, o paraíso do « tá-se bem »"

Há coisas que, por muito que nos expliquem, nós, o povo, não conseguimos compreender !!

Pelo título do Expresso, de sábado passado, dá para entender que os Juízes em Portugal são todos esmagadoramente "Bons" ou "Muito Bons" e que nem sequer existe um único juíz "Medíocre". Eu não sei a quem compete, mas por favor venha alguém explicar ao país porque é que a Justiça é o que é, e está como está cá no burgo, quando os Juízes, afinal, são do melhor que se pode pedir.

Justiça, está bem de ver, não rima com burrice, que é coisa que os nossos juízes provavelmente não são, a atender às suas belíssimas classificações... Mas por favor, que a justiça não queira é agora vir tomar-nos por aquilo que, pelos vistos, não serve para si própria...

Que me perdoem os sres. juízes, os verdadeiramente Bons, Muito Bons e até Excelentes, os que verdadeiramente se esforçam para que a justiça seja, em Portugal, algo que não nos deixe a todos ainda mais envergonhados e deprimidos perante um país de faz de conta e que, portanto, não têm nada a ver com isto, mas "isto" ( estas classificações ) cheira-me a corporativismo ou, no mínimo, a alguma falta de capacidade de avaliação ou auto-avaliação. No limite, ausência de respeito pela inteligência do povo que paga para ter direito a uma justiça que tenha mais do que vistas curtas, e que não faça vista grossa perante os problemas que, afectando-a a ela, nos afecta a nós. Bem sei que a Justiça não se resume aos juízes, e que muitas vezes pagam estes a factura pela incapacidade do estado em proporcionar uma Justiça à altura de um país que se afirma democrático, em pleno século XXI, e integrante da União Europeia, mas não haja dúvida de que os juízes serão sempre a face mais visível, em qualquer tempo, da imagem que a Justiça transparece, e estas classificações não ajudam nada a essa imagem...

Quando se trata de avaliações, algumas classes profissionais ao serviço do estado são pródigas em usar e abusar de um narcisismo sem limite, e não são só os Juízes, já tínhamos visto o mesmo na área da educação.

Mas eu quero, desejo acreditar, que esta, como outras classes profissionais, no estado, fazem tudo bem feito na hora de se avaliarem. Dito assim, enquanto cidadão, só tenho que ficar a aguardar que, no máximo, dentro de um ano ou dois a justiça e a educação sejam o espelho das classificações que resultam das suas avaliações, isto é: que funcionem, funcionem bem, e sejam o exemplo da nação. Se isso não acontecer, é melhor não repetirem, nunca mais, estas classificações nas avaliações que promovem. É que, no limite, serão tidas como um exercício de humor. E lá fora, na "estranja", conhecedores da triste realidade da justiça em Portugal, como noutros domínios básicos da vida de um país, vão rir-se de nós e do nosso grande e desmesurado umbigo.

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Jacinto Lourenço