A indisciplina nas escolas, a nível nacional, já ninguém consegue esconder: ministério, escolas, professores, encarregados de educação, e os alunos, ou alguns alunos, que parecem, aliás, os menos interessados em omitir o facto, devendo-se-lhes até algumas cenas pouco abonatórias passadas no interior de algumas salas de aula em Portugal e que vão parar à internet mais como matéria de exibição predatória do que como denúncia pública.
A democracia, tem, como é sabido, muitas vantagens enquanto modelo de governação dos povos. Mas tem algumas lacunas evidentes ( ou não ) sendo uma delas o excessivo uso da "paciência" para resolver os problemas mercê de ter quase sempre que procurar colocar, o mais possível, de acordo, "gregos e troianos", o que é, como bem sabemos, matéria difícil senão impossível. Ora em Portugal, essa desvantagem transforma-se, todos os dias, numa outra coisa a que se chama laxismo, desleixe, falta de vontade ou, no limite, irresponsabilidade. E tem sido assim, balizado por estes factores, que a educação e o modelo educacional têm sido geridos no país.
Vem agora mais um "novo" estatuto do aluno tentar resolver os problemas de indisciplina no seio da comunidade escolar: promete castigos, penalizações, proibição de frequência das aulas por uns dias, responsabilização das famílias, etc. Enfim, não conheço no detalhe e não sou do sector, mas é o que tenho ouvido citado nos meios de comunicação. O que me parece que ainda ninguém intuiu é que, para os alunos que provocam actos de indisciplina, estar fora da escola por alguns dias é um "oásis"; vão poder "divertir-se" e engrossar os grupos alargados de jovens e adolescentes que pululam, de dia e de noite, muitas vezes até largas horas da madrugada, pelas ruas do bairro, pelos cantos e becos, em conversas intermináveis, sabe-se lá sobre o quê, impedindo o repouso, pelo volume sonoro provocado pelos profícuos diálogos, a quem no dia seguinte tem que ir trabalhar e necessita descansar e, pior que tudo, sem que as famílias os controlem ou sequer saibam, ou até se importem, por onde andam ou o que fazem durante horas intermináveis na rua. Claro que quando os pais recebem a informação da escola acerca do processo disciplinar movido ao filho, ficam muito indignados e vão reclamar ao Conselho Directivo da "injustiça" e "perseguição" de que o seu rebento, sempre um exemplo de bom comportamento, está a ser vítima.
O problema, parece-me, não se irá resolver com nenhum "novo" estatuto do aluno. O problema é de autoridade, ou melhor, da falta dela. Falta de autoridade de um estado democrático numa democracia incapaz de resolver os seus problemas mais básicos. Falta de autoridade das escolas e dos professores porque ganharam medo aos alunos e às suas famílias e não sentem a cobertura do estado para se afirmarem enquanto agentes importantes da educação e que enquanto tal têm que ser respeitados. Falta de autoridade dos pais ou encarregados de educação porque não conseguem e, em muitos casos não querem, controlar os seus educandos, despejando-os nas escolas comos se estas os pudessem substituir nas suas próprias responsabilidades. Por último, ausência de um modelo educacional que nos diga, a todos, para onde o país quer e deve ir, indexando o estado, escolas, professores e demais agentes, proporcionalmente na componente que lhe diga respeito, a essa direcção. De outro modo, é o país e a democracia que continuarão no caminho do subdesenvolvimento social e económico.
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Jacinto Lourenço