terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Intolerância de Ponto...


Pela primeira vez tenho que concordar com o (des)governo instalado em Portugal quanto a uma medida radical tomada: a eliminação da tolerância de ponto no Carnaval . Não, não é pela razão de eu gostar pouco do Carnaval que concordo com o (des)governo, aliás, diga-se em favor da verdade que, eu, não gostando particularmente do Carnaval ou da celebração que ele evoca, gosto sempre de ficar em casa a usufruir de um dia de descanso extra; é que esses dias  já são tão poucos que ninguém se pode dar ao luxo de enjeitar um descansozinho suplementar, muito menos eu. Mas a razão pela qual tenho que vir aqui dar a mão à palmatória e concordar com o (des)governo do país tem a ver com o facto de eu achar que não é necessário que os portugueses se preocupem em produzir ou celebrar Carnaval nenhum pois o (des)governo já anda a fazer isso por eles há mais de um ano. A (des)governação tem sido um Carnaval permanente e, se ao princípio o povo ainda alimentava a esperança  de que Passos Coelho viesse dizer que podiam ficar descansados que afinal era tudo a brincar e de que era como no Carnaval que ninguém levava a mal, depressa percebeu que não senhor, era mesmo a sério,  e que o (des)governo tinha convocado um Carnaval só para os ministros, os secretários de estado, o presidente da república, os membros do partido da maioria e os seus clientes habituais, mais os banqueiros e os representantes do ultra-capitalismo com os seus pontas de lança que dão pelo nome de Troica. Claro que a oposição não gostou nada disso e o PS não se ficou nas encolhas e  tratou logo de arranjar também um Carnaval alternativo com os cabeçudos Seguro e Costa a darem  espectáculo na praça pública para diversão do pagode à hora dos telejornais.

O problema, meus amigos, é que, não senhor, nós não precisávamos realmente do Carnaval para nada. Com tanta maldade que o (des)governo  produz e com tanta diversão que a oposição nos oferece, Passos Coelho, achou que não era necessário que a malta deixasse o conforto dos ares condicionados, quentinhos, dos open spaces do trabalho e fosse para a rua apanhar frio e chuva e, quem sabe, alguma constipação ou gripe que desse para o torto e ainda servisse para aumentar o défice com consultas, medicamentos e ausências ao serviço. Mas  claro que todos sabemos que isso é uma desculpa um bocado esfarrapada, e vai daí, o (des)governo não deu tolerância de ponto . Mas a verdadeira razão para nos retirar o feriado é que o (des)governo, invejoso e incapaz de se sujeitar à livre-concorrência da trapalhada, dos momos, dos cabeçudos, das matrafonas e dos disfarces, não resistiu e cortou  asas às veleidades de quem lhe pudesse fazer frente nos arremedos carnavalescos onde quer continuar a pontuar enquanto a proverbial mansidão dos portugueses o deixar. É isso: o (des)governo não quis concorrência de ninguém, acha que o carnaval que nos tem oferecido chega e sobra e,  aí, eu concordo.

Jacinto Lourenço