sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Justiça à moda Alentejana...



Uma história familiar verdadeira




Dona Capitolina viveu um grande e curto amor. Mas mesmo assim quando o marido lhe morreu de uma morte muito triste, deixou-lhe oito filhos, cinco rapazes, (dois já casados) e três meninas.
Naquela altura começava-se a trabalhar muito cedo, os rapazes de “ganhão” e as raparigas na “monda”. Algumas meninas começavam a trabalhar de terna idade em casa dos lavradores e não poucas eram despedidas depois de servir os baixos instintos de patrões, filhos, ou feitores lacaios.
Uma das filhas da nossa viúva, a Margarida, (as outras ainda estavam em casa), trabalhava no prédio do maior proprietário rural da terra. Dono de herdades, gados e vidas de pessoas. Era ele quem na terra decidia quem tinha direito ao “pão nosso de cada dia”. Nesses tempos, no Alentejo profundo, trabalhava-se os dias todos e comia-se quando era possível. Não se podia afrontar um destes senhores, que eram saudados de chapéu na mão e cabeça baixa.

Um dia a Margarida chegou a casa muito chorosa. Ante as perguntas da mãe, contou que “o filho do patrão, (um rapazola de dezoito anos), a tinha agarrado e tentou fazer com ela algo muito feio, por sorte tinha conseguido escapar”.
Depois de ouvir o relato a viúva fez o que era usual, reunir toda a família e decidir. Mandou as duas filhas mais novas chamar os irmãos casados; ainda nesse dia iam decidir o que fazer como faziam sempre desde a morte do marido.
À noitinha, depois da ceia, estava reunido o Conselho Familiar. Eles usavam já, sem o saber, o “et pluribus unum”. A menina e a mãe falaram, retiraram-se e os cinco homens decidiram; “nunca mais se falar nessa história, e a rapariga amanhã vai trabalhar para o rancho, já tem bom corpo”.
O triste caso esqueceu-se como os homens tinham mandado e a vida continuou como sempre, mansamente.

Frente ao prédio do lavrador, vivia um dos ferreiros da terra. Era um homem evoluído e interessado na política conturbada da época, feita de revoluções e mudanças de governo constantes nos anos que se seguiram à implementação da República.

Todos os serões o rapazola atravessava o medonho negrume da rua, para participar nas tertúlias em casa do vizinho.
Numa noite muito escura, sem luar, mal fechou a sua porta, foi rodeado por cinco vultos de capote e chapéus pretos. Gritou por socorro, os vizinhos assomaram-se aos postigos, mas nenhum se atreveu a ir em seu auxílio. Levou a maior sova da vida dele, esteve quinze dias entre a vida e a morte.

Durante dias falou-se da afronta feita a um patrão tão importante. Jurava-se a pés juntos ter sido façanha de gabirus de passagem, que ninguém da terra se atreveria a tanto. Mas quem foi mesmo nunca se soube, até desaparecer na bruma do tempo.

O senhorinho nunca relacionou o efeito com a causa, tanto que continuou pela vida fora a abusar de mocinhas inocentes. Mas pela Margarida, pagou bem pago.