sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A Razão e a Emoção


Lembro-me do fim penoso do rei Saul e do seu reinado. Saul foi o rei que o povo escolheu. O povo hebreu, a exemplo do que via com todos os outros povos à sua volta, queria um rei, pedia um rei, exigia um rei,  e foi-lhes dado um rei. Rejeitavam o governo de Deus. As eventuais capacidades de Saul para governar nunca haviam sido testadas. As suas qualidades espirituais nunca haviam sido postas à prova. Era um homem impulsivo, tinha coragem guerreira. O povo escolheu-o. Samuel alertou para o peso que um rei e as  exigências do seu reinado comportavam. Mas o povo não recuou. E assim Saul foi ungido rei.

Ora este exemplo traduz uma verdade para a qual nem sempre nós estamos despertos e que resulta do facto de que nem sempre aquilo que nos parece providencial é uma solução real. As nossas escolhas presentes, quer queiramos ou não, mais do que o presente condicionam o nosso futuro. O professor e cientista Carvalho Rodrigues afirmou em tempos que  aquilo que mais nos condiciona  são as causas futuras e não as passadas. Os hebreus olharam para a frente e quiseram ver o seu futuro conduzido por um líder que fosse um deles, que pensasse como eles, que reagisse como eles, que tivesse o mesmo pensamento que eles.  Como é bom de ver, pelas razões conhecidas, isso não iria dar bom resultado. O passado,  não podendo já ser determinante na vida de ninguém, não deixa de ser um bom conselheiro, alguém a quem escutar, especialmente porque o ser humano tem esta tendência doentia para a repetição do erro. Não há bolas de cristal. O futuro dependerá sempre das escolhas pessoais que fizermos no presente. É assim desde que nos foi dada a faculdade do  livre arbítreo  Tomar decisões acertadas nem sempre é fácil. Mas ajuda se elas forem ponderadas,  às vezes separando a razão da emoção. Foi por isso que o povo hebreu sofreu tanto. Raramente quis atender à razão de Deus. Raramente tomou decisões que não estivessem afectadas pelas emoções do imediato. É assim connosco também, nos dias que correm. Como pessoas, como povo, como nação.


Jacinto Lourenço