segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Um Chiado Triste demais...


Há já muito tempo que não subia ao Chiado, em Lisboa. Nasci e vivi a maior parte da minha vida em Lisboa ou perto dela. Confesso que a cidade me tem encantado e desencantado ao longo dos anos dependendo da forma como evolui positiva ou negativamente nas várias vertentes que enformam a vida de uma cidade capital de um país. Mas no sábado passado, enquanto subia a rua do Carmo em demanda da feira de alfarrabistas que se realiza todos os sábados na rua Anchieta, Lisboa desencantou-me profundamente, e nem o cosmopolitismo emprestado por um razoável número de estrangeiros que por ali circulavam conseguiu disfarçar a tristeza nos meus olhos. Gente de rostos fechados, macilentos,  sofridos, lojas encerradas, liquidadas, edifícios descuidados e escuros, sujidade e lixo amontoado, pedintes e mendigos a cada esquina como nunca tinha visto e,  para encerrar o quadro decadente deste Chiado, a rua Anchieta em obras com um tapume a indicar que por detrás estaria a feira de alfarrabistas que me tinha feito deslocar até ali. Verdade é que de alfarrabistas nem sombras.
Lisboa, parece-me, perdeu o brilho e o encanto de outros tempos. O Chiado já não atrái nem distrái, assemelha-se  mais um doente a requerer cuidados paliativos e que a carrinha dos fados acompanha debitando melopeias tristes e passadistas.
 Saí dali rapidamente, depois de ter tomado um café e experimentado um pastel de nata na Brasileira que me custaram os olhos da cara. Pobre, decadente, deprimente, mas valha a verdade, com preços de europa dos ricos, esta "zona nobre" de Lisboa onde os passos de Pessoa já não ecoam.


Jacinto Lourenço