quarta-feira, 24 de junho de 2009

D.Afonso Henriques, 900 anos, ou de Como é Difícil Ser povo em Portugal

A caminho do emprego escutava, meio entorpecido ainda pelo acordar ( sempre um acto contra-natura, para mim, às 07h-00 da manhã…) de uma noite de sono dormida à pressa, a Antena 1 e o programa que esta estava a realizar , na cidade de Guimarães, alusiva aos 900 anos do nascimento de D. Afonso Henriques, como bem sabemos, o rei fundador de Portugal.
A páginas tantas, numa entrevista à responsável por um dos mais importantes museus da cidade, “queixava-se” a senhora que, de entre as muitas iniciativas que tinham agendadas, constava um desfile com 300 crianças vestidas de roupas da época da fundação da nação. E dizia ela que o problema não foi arranjar as crianças, o problema foi convencê-las a “serem” povo ! Isto é: todas queriam ir de reis, guerreiros, cavaleiros, damas da corte, etc. Povo é que não ! Não queriam ir vestidas de povo. Faz lembrar a frase humorística que glosa o problema do país : “há muitos chefes e poucos índios”. Claro que ”chefe”, todos querem ser, pelos privilégios que se supõe virem no “pack” da função. “Índios”, não, que isso não traz benesses nenhumas e só dá chatisse e trabalho. É coisa de pobre, e ainda por cima está-se sempre a dar o corpo às setas…o que não é nada agradável, pois por muito jogo de cintura que tenhamos, sempre há-de haver uma que nos acerta em cheio....
Ser povo é coisa que nunca foi agradável em Portugal, nos nossos 900 anos de história. Hoje, ser povo, continua a não atrair ninguém neste país eternamente adiado. E o pior é que as nossas crianças já começaram a descobrir isso. Pois é, os miúdos agora já nascem com os olhos abertos…. Dir-se-ia… Já ninguém os engana nem consegue obrigar a ser povo. Ser “chefe” é que é, em Portugal. Há muito mais possibilidades de levar uma boa vida, enriquecer rapidamente, ter casa de campo, de praia e de cidade, carro de gama alta com cartão frota disponível, para já não falar nos Golds sem precisar de conferir o extrato ao fim do mês, e/o u não ter que se justificar, seja no público ou no privado, por todas as tropelias, más gestões ou enriquecimentos pouco lícitos entretanto realizados.
Brandos costumes não é coisa para quem é povo.
Ser Povo em Portugal, é “barra pesada”, até uma criança sabe. 900 anos, afinal, já nos ensinaram muito sobre o que foi e é Portugal.
Castelo de Guimarães
Jacinto Lourenço