terça-feira, 21 de julho de 2009

Melancolia

Hoje estou melancólico. Não sou de sustentar máscaras. Não consigo fingir alegria quando estou triste ou tristeza quando estou alegre. Nunca serei um bom actor no palco da dissimulação, mesmo se com ela me pretendesse enganar apenas a mim próprio. Confesso que nunca entendi muito bem como é possível manipular sentimentos, nem mesmo os meus. Tenho dificuldade em caminhar quando me apetece estar parado; não consigo estar parado quando tudo me diz que devo caminhar. Não é rigidez dos anos nem o excesso de zelo na protecção dos meus diferentes momentos ou estados de alma. Sempre foi assim. Nunca me achei um super-homem, dotado de poderes de outro planeta, e também nunca me senti uma "gata-borralheira", triste e desamparado, que tem o mundo todo contra si e a quem só uma fada-madrinha possa deitar a mão. Prefiro o termo "resistente". É essa palavra que melhor me define, mesmo se as minhas trincheiras, aqui e ali, apresentam fragilidades, internas e externas, mais do que eu gostaria. É então que me lembro das palavras de Paulo:
«Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte.» 2 Coríntios 12:10
Não sou um extra-terrestre nem me revisto de uma couraça de indiferença face à vida que todos os dias me exige mudanças e adaptações. Mas há mudanças que nunca fui, nem serei capaz de fazer, e adaptações que não cabem na plasticidade da minha fé e do meu carácter. Cito de novo Paulo para que a minha melancolia não ocupe espaços a que não lhe reconheço direitos :
Desde agora, ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus. Gálatas 6:17
Prossigo para o Alvo ! Não quero errar. Por isso vou com Cristo. Tal como Ele, tenho momentos em que sinto o peso do passado e do presente a quererem abater-se sobre mim. Ao contrário dEle, não tenho respostas imediatas para um futuro que não domino. O futuro é um território de Deus, não meu. Limito-me a seguir nos seus passos e ouvir as suas propostas. Ele aconselha-me nas escolhas, quando eu o escuto. Recolhe-me quando caio vergado ao peso do que não suporto. Existem dias assim, em que o fardo se torna pesado de mais só para nós. É então que a melancolia nos vergasta a debilidade. Resistir, continua a ser o trajecto, quase sempre duro, que prossigo. Mas resistir também nos desgasta. Importante é saber que estamos na Luz e que somos Sal. Se perdermos isso, perdemos tudo.
Jacinto Lourenço