quarta-feira, 7 de abril de 2010

A "Igreja Pinóquio" ...

[ Título original do texto: Propaganda versus Evangelismo ]
***
Somos especialistas em fazer propaganda enfatizando exactamente aquilo que não somos. Isto é quase sempre uma regra. No desespero de atingirmos um grupo grande de pessoas, atropelar a ética torna-se algo comum. É preciso perceber que a ética para a elaboração de propaganda de produtos não pode ser utilizada para a disseminação do evangelho. Isto dá-se porque o evangelho não deve ser comparado a um produto. A publicidade de um produto quase sempre busca encontrar um apelo emocional para que as pessoas o comprem. Mas emocionalismo não é o sentimento correcto daquele que conhece verdadeiramente o evangelho, pois é algo volúvel e que não durará muito tempo. Quem se entrega a apelos emocionais e compra algo, quase sempre irá trocar a sua aquisição por uma “melhor” num futuro próximo. Outro grande problema que enfrentamos ao falar em evangelismo, é tentarmos aplicar conceitos de marketing às igrejas. Conceptualmente, as igrejas costumam ser exactamente o contrário do que a sua divulgação afirma. Esta dualidade entre a publicidade e a realidade, provoca decepções tremendas. E também não deixa de ser uma mentira. Já vi muitas pessoas que ficaram impressionadas por práticas de rua, ou até mesmo por eventos ditos de “evangelismo”, que abusavam de expressões artísticas; ao chegar ao culto de domingo, tais pessoas sentem-se enganadas. Parecia que todo aquele bom ambiente anterior era apenas um isco para se apresentar mais “do mesmo de sempre”. E talvez o tipo mais comum de decepção provocada pela propaganda é quando uma pessoa se filia numa igreja na perspectiva de viver com pessoas melhores que ela mesma. Isto é algo que quase sempre acaba mal. Afinal, a igreja é a comunidade dos arrependidos; daqueles que buscam a vida em santidade, mas… o quanto somos melhores que os de fora? Na ânsia de estar andando com pessoas “sem problemas”, muitos acabam formando grupos organizados pelo pior tipo de afinidade: as suas dificuldades. E estes tem tudo o que é necessário para promover grandes tragédias. Mas se o nosso marketing abordasse a verdade, as pessoas saberiam que no nosso meio, trabalhamos como num hospital: muitos doentes, buscando constante recuperação. Conheço uma igreja que possui um banner com a foto de algumas pessoas escolhidas a dedo em sua fachada. Porém, com o tempo, algumas pessoas abandonaram a fé. Inclusive, duas pessoas se revelaram homossexuais e se afastaram completamente da comunidade. Este banner é considerado por muitos como uma propaganda que deu errado e que, com certa urgência, necessita ser substituído. Inclusive há quem defenda o uso de bancos de imagens (com imagens de pessoas desconhecidas) na confecção de uma nova fachada. Mas… há algo mais autêntico do que o velho banner? O velho representa a verdade. Diz que no nosso meio há pessoas com problemas. Que alguns talvez não chegarão até o fim, apesar das suas juras de amor a Cristo. E também revela que temos problemas como qualquer outra pessoa. Esta é a publicidade da verdade; que não mente para alcançar resultados. E com certeza, um evangelismo baseado em mentiras, não pode ser usado para representar aquele que é o Caminho, A Verdade e a Vida.
***