sexta-feira, 30 de abril de 2010

Os Políticos que Temos...

Há dois dias atrás os meios de comunicação deram conta de dois factos que retratam de forma absoluta e redundante o conceito que os políticos têm das pessoas que estão sujeitas à sua governação ou que são seus apoiantes. Ao mesmo tempo, ficamos a perceber que é impossível confiar em políticos, até prova em contrário, qualquer que seja a sua orientação, ou o país onde se encontrem.
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Facto 1: O ainda primeiro-ministro Britânico, trabalhista ( socialista ), durante uma acção de campanha eleitoral, manteve um breve diálogo com uma eleitora que o confrontava, por sinal muito educadamente, sobre algumas questões que, enquanto cidadã inglesa, a preocupavam. Gordon Brown, atendeu a eleitora, também muito educadamente, diga-se, e respondeu às suas perguntas. Se ela ficou ou não satisfeita com as respostas, é tema a que não quero aqui atribuir nenhuma relevância. O que tem relevância, sim, é o facto do primeiro-ministro do reino de Inglaterra se ter esquecido , enquanto se dirigia à viatura que o transportava, que carregava ainda colado ao corpo o microfone que lhe tinha sido colocado pela cadeia de televisão que fazia a reportagem da campanha eleitoral e, ao esquecer-se desse facto, ter pronunciado, irritado, palavras de desagrado para com os membros do seu staff por terem permitido o diálogo com a eleitora. Pior ainda: o estalar da sua ténue e cínica capa de verniz levou-o a ofender , literalmente, a eleitora que o interpelou. Teve "azar", a cadeia de televisão gravou, colocou no ar e deu a ouvir à senhora em causa as palavras que o seu P.M. tinha dito após tê-la "despachado" ! É destas coisas que vivem actualmente as televisões, mas é nestas ocasiões que se vê também o calibre ético e moral de um político. Lá como cá, os eleitores, as pessoas, são apenas números e representam, exclusivamente, uma forma de chegar ao poder pelo poder a qualquer preço. Para esta estirpe de políticos e para esta forma de fazer política, as pessoas não passam de um incómodo e de um estorvo pontual a ultrapassar para que se atinja o objectivo último. Como é óbvio, os posteriores pedidos de desculpas do Sr. Brown só confirmam que, nestes casos, as regras não têm excepção.
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Facto 2 : Foi anunciado, em Conselho de Concertação Social, pela Sra. Ministra do Trabalho portuguesa, que já foi sindicalista, que já foi técnica na UE e que é agora ministra, que o Governo colocou em cima da mesa a proposta de reduzir em 25% do valor total que um desempregado poderá receber do Subsídio de Desemprego que for calculado sobre o seu último salário e visando, segundo ela, que qualquer desempregado nunca receba mais de S.D. do que receberia se estivesse a trabalhar. Para além de outras medidas, esta é a que se afigura com maior impacte sobre a vida de cerca de 500.000 pessoas. Quanto à questão de fundo, estamos de acordo: ninguém que esteja desempregado deve receber mensalmente mais do que recebia quando estava a trabalhar. Mas será que passou pela cabeça da Sra. Ministra, ou do Sr. Primeiro-ministro, ou de alguém do governo, de que isso, efectivamente, nunca acontece ? É melhor explicar: uma pessoa que esteja desempregada não recebe nem subsídio de férias nem subsídio de natal. Ou seja: logo, mesmo que receba mensalmente o mesmo, estando no desemprego, que receberia se estivesse a trabalhar, receberá sempre menos dois meses de salário. É só fazer as contas… Mas nisso parece que os ministros socialistas não são muito bons... A mensagem que o governo está a passar à sociedade, e em especial a quem tem emprego e trabalha e paga impostos, é que todos os desempregados são uns calaceiros, que não querem trabalhar e preferem viver à custa de quem trabalha e paga impostos. E nem sequer estou a dizer que nalguns casos isso não possa ser verdade, mas deve ser para esses poucos casos que terão que ser implementadas e reforçadas as medidas de fiscalização e penalização. O que acontece é que o governo quer agora arranjar bodes expiatórios para o seu desnorte e, qual abutre que só ataca as presas quando elas se encontram suficientemente fragilizadas, o governo, que olha em derredor e recusa meter-se com quem mais contribuiu, internamente, para gerar a actual crise autóctone, e que continua , apesar dela, a ganhar milhões e a fugir aos impostos, só tem olhos para quem, para além de não ganhar nada com as crises só perde, e decide, mais uma vez, atacar onde é mais fácil, depois de alinhar pela velha “cantiga” da “diabolização” dos desempregados, cantada há muito pelas confederações patronais, como se fosse por iniciativa própria que um trabalhador perde o emprego e depois decide ainda ir fazer “teatro” para a porta da empresa só para aparecer na televisão em horário nobre... Lamentável que se intoxique e manipule e tente ludibriar a opinião pública, apenas porque não se teve a capacidade e inteligência e coragem de governar e tomar as medidas concretas, quando e como devia, para minimizar o impacte da situação que agora nos coloca à beira de um ataque de nervos. Eticamente e moralmente reprovável, em toda a linha. A Sra. Ministra, que já foi sindicalista, como curiosamente o foi, igualmente, o actual “patrão” da CIP, tem obrigação de saber ( como sabe de certeza ) que não está a falar verdade e que, por isso, a proposta do governo assenta em bases de falsidade. Dizia ela, que a proposta em causa procurava a empregabilidade mais rápida de quem está desempregado. Mas como, se a economia portuguesa não gera emprego, antes pelo contrário !? Para além do mais, dizem os economistas, que uma economia que não cresça acima dos 2% não gera emprego… O que a CIP pretende, com as suas propostas, todos percebemos: mão de obra disponível, mais barata e mais precária. O que o governo pretende, parece óbvio também: fazer a vontade à CIP e colocar o Ónus nas costas dos desempregados, passando a mensagem de que só assim, ( nem que seja com medidas que subvertem a moral, a ética e a verdade ) se consegue obrigar essa “corja” a trabalhar. É o País que temos, os patrões que temos, e o governo e os políticos que decididamente escolhemos. Será que nos vai servir de exemplo!? Espero que sim ! ***

Jacinto Lourenço