quarta-feira, 7 de abril de 2010

"A murmuração dos helenistas contra os hebreus"

O evangelista Lucas dedica nos seus Actos dos Apóstolos apenas um parágrafo àquele que foi um grande problema, não tanto pelo seu significado e duração, mas porque foi fundacional para a instituição do diaconato na Comunidade cristã de Jerusalém. «Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos houve murmuração dos helenistas contra os hebreus»- 6, 1
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No plano social, as viúvas dos cristãos originários das cidades gregas não eram tratadas com simpatia devida pelos cristãos aborígenes da Palestina, de Jerusalém, da Judeia e da Galileia. Uns e outros eram Judeus. Uns da Dispersão, outros autóctones. Lucas enfatiza com um simples lexema («esquecer»), a causa da problemática questão: essas viúvas estavam a ser desprezadas e esquecidas nas refeições diárias.Este esquecimento está marcado no texto de Lucas com um termo grego (paratheoreo) que induz acção interior e exterior, a negligência dos sentimentos reflectida no descuido do olhar, do olhar por alto, do desprezo. Aparentemente, parece-nos ser um problema meramente social, com traços de xenofobia, sabendo nós como sabemos que os judeus sempre enraizaram em si uma tendência para a exclusividade, quer religiosa, teológica e, por fim, social. A verdade é que a questão suscitada na Igreja de Jerusalém vai para outro plano. É civilizacional e do âmbito da cultura. Como divergências de conteúdo transcultural, digamos assim, podem influenciar a Igreja de Deus, temos aqui a prova histórica no relato lucano. Mas tais divergências não foram obra do acaso, nada do que concerne aos Planos divinos na história do homem é por acaso. Contribuíram para o crescimento e expansão da Igreja, foram com a perseguição que a seguir eclodiu a pedra de toque da crise, em sentido teológico e neo-ortodoxo de mudança. [...]
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Por João Tomaz Parreira *** Continuar a ler AQUI no Papéis na Gaveta