quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Hoje Apeteceu-me brincar com Coisas Sérias...

Todos os dias acordamos com novidades sobre o quanto a vida dos portugueses está cada vez mais difícil. Sentimos o garrote um bocadinho mais apertado que no dia anterior; estrebuchamos, esbracejamos, fazemos tudo, ou melhor, obrigam-nos a fazer de tudo para podermos ser europeus de primeira, é pelo menos o que nos dizem. Mas a coisa tem um limite e os nervos começam a vir ao de cima, para além de que, não estou nada preocupado em que carruagem viajo, o que me interessa é chegar ao destino.
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A Alemanha, a avaliar pelo que diz a comunicação social, declarou-nos guerra psicológiga e económica ( do mal o menos... ). Quer que o governo aperte mais o nó górdio que já nos estrangula. Cá para mim, não somos nós portugueses, gregos, irlandeses, espanhóis ou belgas ( o nosso bem-vindos a estes últimos, que começam agora a fazer parte do clube P.I.G.S. Só não sei é como é que vai resultar o acrónimo porque encaixar o "B", não se mostra tarefa fácil ) que precisamos ser salvos. Quem precisa ser salva é a Alemanha, e por isso procura iludir a realidade; é que, afinal, os alemães têm muito mais a perder do que nós, em matéria de economia de vida boa. De que é que me servirá ter um porche se a praia com sol e areia fina e branca me fica a 3.000 quilómetros de distância; pois é este o pesadelo alemão.
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Ainda os alemães andavam de coeiros e já nós, portugueses, gente de trabalho, esforçada, desbravadora e, apesar de tudo, minimamente organizada, europeus de 900 anos de história, por cá andávamos a dar novos mundos ao mundo. Mas isso, somado à "esperteza" de alguns governantes, fez-nos acreditar, ingenuamente, no conto do vigário que a União Europeia nos vendeu. Acabámos com a indústria pesada e ligeira, e ainda com a naval. Arrancámos vinha, olival e pomares, matámos vacas, ovelhas e cabras, acabámos com a agricultura, com a pesca e tudo o mais que mexia e não mexia. Ficámos com o turismo, o vinho do porto e com as praias para nelas recebermos resmas de alemães altos, estupidamente louros e barrigudos, acompanhados das suas esposas igualmente altas, pilosas, medida XXL, e a falarem uma língua que mais parece a de um português com a boca cheia durante um almoço de favas com chouriço. Mas pelos vistos a coisa não deu certo, estava bom de ver; pois se afinal já nem gregos nem espanhóis conseguem viver apenas da venda de sol, como é que nós, que ainda por cima fizémos do Algarve uma selva de betão, e lar de terceira idade para velhinhos ingleses em época baixa, como é que nós, digo bem, havíamos de conseguir viver da venda de sol e areia, mesmo que seja mais branca que a espanhola ?
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E aqui estamos, no meio deste imbróglio, e para o qual contribuimos com a nossa proverbial mania de sermos simpáticos com os estrangeiros. Pelos vistos, isso não resulta com todos os estrangeiros; prova-se que não resulta com alemães e quejandos, que ainda por cima estão sempre a mandar a simpatia às urtigas.
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Claro que a tudo isto se soma a falta de empresários e investidores como deve ser, portugueses com um pouco mais do que a instrução primária ( que me perdoem os empresários que se fizeram à sua custa e à custa do seu trabalho e suor, sem outra aptidão para além da sua vontade de vencer, mas os tempos, hoje, são outros e o mundo da economia muito mais exigente ) e, de preferência, sem curso de "pato-bravo", empresários daqueles que não querem recuperar o investimento em seis meses para irem a correr colocar a "massa" numa off-shore qualquer das ilhas Caimão; dos que não se preocupam apenas em pagar o salário mínimo, ou abaixo do mínimo, aos seus trabalhadores, para, à custa disso, aumentarem os lucros ainda mais rapidamente.
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Bom, se há uma lição a tirar de tudo isto que hoje nos envolve, resume-se no velho adágio "amigos, amigos, negócios à parte". O dinheiro não tem amigos nem endereço certo, e eu, sinceramente, acho que os alemães precisam mais de nós do que nós deles... Fiquem lá com os porches, mercedes, VWs, televisões BMWs, máquinas de lavar e demais ferro-velho que fabricam, pois é disso que fazem a vida deles, de fabricar artefactos que ao cabo de dez anos já não passam de sucata, que nós ficamos com as nossas belas praias livres de "peles-vermelhas" germânicos a falarem aquela língua bárbara que poucos entendem. Depois quero ver como é que eles se desenrascam... quando virem que temos a única coisa que eles, com o dinheiro ganho a trabalhar que nem escravos, não conseguem comprar e levar para a germânia: praias belíssimas com areais a perder de vista, sol e águas mais ou menos tépidas de cor azul turqueza. Pois que se amanhem. Tivessem aberto os olhos a tempo...
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Hoje apeteceu-me, pronto !
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Jacinto lourenço