Esta é a sensação que me fica depois das eleições presidenciais de ontem: que Portugal não promete ou, pelo menos, que a Portugal não se augura nada de bom nos próximos anos.
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Não sou, nem desejo ser comentador político, já os temos em excesso e seguramente todos, supostamente, mais informados do que eu ( é o que se exige a um comentador político, é que seja mais informado na matéria política que um vulgar cidadão como eu ), mas não posso deixar de fazer algumas constatações face aos resultados eleitorais, agora que o terreiro da "feira" está liberto de cores partidárias.
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Constatação óbvia é que Cavaco Silva, futuro ex-presidente da república e futuro próximo presidente da república, venceu claramente. Uma vitória à primeira volta que não "esmagou", como muitos imaginavam, mas suficientemente folgada para não deixar ilusões ao pelotão dos candidatos. Depois, terá que ser óbvio, até para o próprio candidato e para a sua "entourage" política que, quantitativamente, o número de votos deitados nas urnas a seu favor é o número de votos mais escasso alguma vez contabilizados numa eleição presidencial. Equivale isto a dizer que, de todos os portugueses que se dispuseram a votar, e que foram menos de 50% dos eleitores inscritos, um pouco mais de metade deles votaram em Cavaco Silva. Isto, está bom de ver, não faz brilhar a vitória do actual presidente mas, por outro lado, trás à tona a incapacidade histórica de a esquerda portuguesa não se conseguir unir, como a direita, em torno de um candidato, daí que não fiquemos admirados com a derrota, diria humilhante, de Manuel Alegre, eventualmente penalizado pela associação ao PS num momento em que as coisas, para este partido, não estão particularmente felizes, estando mesmo particularmente "desgraçadas".
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Esperava-se que Cavaco Silva tivesse o discurso vitorioso dos presidentes, que se revelasse magnânimo, ponderado e distanciado de uma campanha que lhe trouxe alguns amargos de boca face aos assuntos de melindre que foram carreados para o combate pelos seus opositores. Mas não, o Cavaco Silva que surgiu no discurso de vitória foi um Cavaco Silva amargo, ressabiado, quiçá disposto a fazer sangue, pouco propenso a afirmar-se como o presidente de todos os portugueses, como é hábito nestes discursos de vitórias presidenciais. Até parece que Cavaco não sabia ao que vinha... ou que estaria a contar que a sua imagem de presidente o colocasse a coberto das ondas de choque do BPN, que se adivinhava, chegassem à campanha... A sua mensagem na noite da vitória tem vários destinatários, desde logo um alvo central: o governo de Sócrates. O discurso de Cavaco não augura realmente nada de bom para Portugal. O que não sei é se ainda será possível ficar pior do que está. E Sócrates merece um Cavaco Silva ressabiado ? Claro que sim ? E Cavaco Silva ganhará a coragem, que lhe faltou, durante o primeiro mandato, para fazer um acompanhamento mais próximo da governação, pelo menos, na área económica ? É o que iremos verificar. O que Cavaco Silva nunca poderá esquecer é que também é responsável, e muito, pela actual crise económica, e não estou a falar só do tempo em que era primeiro-ministro e comandava uma troupe de "homens-bons" da governança dos quais alguns viriam a revelar-se como um dos principais motores do afundamento da economia portuguesa através dos desmandos no BPN, entre outras questões que polvilharam os seus mandatos à frente da A.D. Durante o tempo do seu mandato presidencial, ou estava mal aconselhado ou o seu proverbial e ensaiado "afastamento" da realidade governativa não lhe permitiu intervir atempadamente para arbitrar as questões económicas por forma a que o país não se afundasse como afundou. Afinal, a sua auto-proclamada competência técnica no domínio económico-financeiro, não nos serviu de nada. Deixou que o governo navegasse à bolina e interviu tarde ou nunca com discursos pouco menos que inócuos e muito codificados. Todos conhecemos qual o âmbito da acção de um presidente da república e é por isso que todos reconhecemos também que Cavaco Silva se limitou a ter um mandato majestático de 5 anos e a falar apenas de cátedra. Se isso pode servir para países sem problemas, não serve para um país como Portugal, pleno de dificuldades económicas e com um economista na presidência. Que é que o impediu de ser mais interventivo ? Nada, a não ser talvez o "dulce far niente" ou, porventura, a sua visão neo-liberalista da economia de recorte Keynesiano, para mal de todos nós.
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De resto, estas eleições só têm uma história interessante: a de José Manuel Coelho, com uma votação significativa na sua Madeira-natal e a ultrapassagem de um número percentual que poucos julgariam ao seu alcance a nível nacional. Mas este sapo, ( ou melhor: este Coelho ) fica por conta de Alberto João Jardim que terá com que se entreter nos próximos tempos, ou não. Pelo menos não poderá ignorar que o homem não existe e que até conseguiu despertar, com a sua ironia e discurso simples, a consciência de uns largos milhares de portugueses.
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Manuel Alegre só dificilmente voltará a apresentar-se em presidenciais futuras. Sócrates tem por agora a ala esquerda do seu partido açaimada. Este resultado não se pode dizer que desagrade totalmente ao secretário-geral do PS.
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O P.C.P. encontrou provavelmente um novo secretário geral para um futuro próximo. Francisco Lopes, com esta votação e um discurso político bastante mais clarividente que a generalidade dos seus camaradas de partido, está de certeza colocado na linha de sucessão de Jerómimo de Sousa. Parece-nos que consegue fugir, apesar de tudo, ao discurso formatado que tem marcado os últimos dirigentes dos comunistas. O seu eleitorado, pelo menos, acreditou nele.
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A Francisco Nobre elogia-se-lhe o voluntarismo e a capacidade de alcançar um eleitorado que, na hora de votar, não está muito preocupado com projectos políticos ou ideias políticas definidas. Prefere antes fugir à matriz dos políticos profissionais de quem já nada espera. Normalmente, resultados como os que Manuel Alegre conseguiu nas anteriores presidenciais e como o conseguiu também agora Fernando Nobre, são irrepetíveis e não deixam marcas duradouras.
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Resta Defensor de Moura, um candidato sem história nem glória que atingiu o zénite da sua campanha no debate televisivo com Cavaco Silva. Mas esse debate provou, em minha opinião, que qualquer candidato credível da esquerda, com projecto político, e mobilizador, teria sido suficiente para bater um Cavaco Silva de pose majestática e incomodado no seu papel de "pessoa mais séria e honrada de Portugal" com as questões que se foram levantando à volta da sua exposição ao caso do banco dos seus amigos.
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Apagam-se as luzes da ribalta, recolhe-se o entulho deixado dos ideários vazios. A fanfarra vai tocar em Belém, e nós, os que votámos, em conjunto com todos os outros portugueses que não quiseram votar por birra, casmurrice, teimosia ou indiferença, vamos continuar a pagar a crise e a senti-la de forma aguda. Cavaco Silva nem por isso, apesar de só poder agora ficar com as suas duas pensões de reforma que somadas ascendem a mais de dez mil euros mensais.
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Nós cidadão portugueses e cristãos, temos a segurança de um Deus que zela por nós e que não está preocupado com cores políticas ou denominacionais. Que investe em nós o Seu Amor, e que cuida de nós mesmo nos piores tempos de crise. O Amor e a Paixão de Jesus por aqueles que são seus não é graduado pelos tempos de crise. A estabilidade da nossa vida reside inteiramente na dispensação da sua Graça e favor, dia a dia, desde o nascer do sol até ao seu pôr.
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Jacinto Lourenço