segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Respeitar os Pousios da vida


Volto de novo ao convívio de quem segue com alguma frequência esta  página. Nunca como no passado mês de Agosto estive tanto tempo ausente no que concerne à actualização do meu blogue. Mas este ano, como já tive oportunidade de confessar aqui, as férias de verão foram algo diferentes. Alguns trabalhos caseiros de "construção civil" a que decidi pôr ombros impuseram escolhas. Para além do sucesso com que os tais trabalhos decorreram, mesmo se foi a primeira vez que que coloquei as mãos a semelhante tarefa, não ousarei  dizer que  o tempo em que me mantive num relativo exílio alentejano tenha sido de todo desperdiçado noutros planos da vida, bem pelo contrário. O afastamento voluntário dos meios de comunicação e do ruído da crise a que os mesmos nos têm sujeitado  de forma depressiva ultimamente, acrescido da ocupação mental, psicológica e espiritual envolvidas por um  outro contexto geográfico e humano soube-me muito bem, mesmo que  pontualmente os "trabalhos manuais" a que me dedicava fossem  interrompidos pelo monótono canto das rolas que pululam às dezenas nos campos do alentejo onde decidem, ao arrepio das leis migratórias, manter-se todo o ano ( já nada é como dantes... ), pelo canto do galo, o cacarejar das galinhas, o grasnar dos melros, também em hordas por aquelas bandas como nunca se viu em  anos mais atrasados. Sim mesmo com toda esta bicharada por vizinhança,  este tempo representou uma certa terapia natural  em que o contacto humano praticamente se resumia à saudação do vizinho do quintal do lado esgueirado por sobre o muro a avaliar o andamento dos trabalhos ou, quiçá, a observar, desconfiado das novas competências que me desconhecia; no fim rendeu-se à minha plasticidade rústica para o duro trabalho construtivo desenvolvido.

Para além das marcas de desgaste físico evidentes e de umas quantas "amolgadelas" a que chamarei "ossos do ofício", julgo poder concluir que me soube a pouco este "tempo trabalhoso"; talvez por isso deixei mesmo prometido repetir a breve trecho, até porque agora a experiência já é outra...

 Foi fantástico não ter que ouvir, ver ou ler os agouros do costume que são lançados sobre o país, a europa, o mundo e sobre as populações dos países mais debilitados económica e socialmente. Não, não fiz o papel da avestruz, mas que foi fantástico não ser massacrado todos os dias pelas variações sobre o mesmo tema dos media, lá isso foi. Deu para limpar a cabeça e o coração e reflectir sobre muitas outras coisas importantes da vida.

Às vezes precisamos deste "silêncio" e deste breve isolamento para olharmos mais além, por cima da barreira dos problemas que se levantam à volta, para perceber que tudo tem um propósito e de tudo se retiram lições de vida. Lembrei-me de Elias e do quanto ele aprendeu em solidão e isolamento visitado apenas por umas aves, conotadas normalmente com imagens pouco positivas, longe de tudo e de todos, mas contando com o olhar de Deus a repousar sobre si e a conduzir a sua vida. Sim o silêncio e o breve isolamento que nos afaste dos contexto habituais, podem ser fundamentais para o nosso trajecto pessoal e cristão.

De resto, cá estaremos para continuar a caminhar, mesmo que, como dizia Habacuque na sua oração, "o fruto da oliveira minta", respeitando os silêncios e os isolamentos necessários ao ao pousio e ressurgimento da vida.


Jacinto Lourenço