quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Crónica de Férias - 3: Acerca de Multidões e Solidões.

Não gosto de multidões nem de solidões. É apenas por isso que não gosto de certas zonas do Algarve. Albufeira, por tudo o que representa de mau gosto ( no meu conceito, claro ), afasta-me. Fico meio perdido no meio de multidões. Apetece-me fugir !
Sou uma pessoa avisada na maior parte dos temas que cercam a vida. Albufeira repele-me na justa medida em que não satisfaz a minha pesonalidade e carácter de recorte intimistas. Ontem, por muito avisado que estivesse acerca de Albufeira, não a conseguiria evitar. Compromissos familiares !!! Há coisas que eu francamente tenho dificuldade em entender. Uma delas é a razão pela qual, mesmo depois de nos juntarmos, do ponto de vista familiar, várias vezes, durante um ano inteiro, nos nossos locais habituais de residência, em férias acabamos sempre por ter que nos visitar, para nos juntarmos de novo. Cada família terá as suas explicações mais ou menos prosaicas ou suficientemente justificadas para que isso aconteça. Comigo, acredito que seja por questões inexplicáveis para além das que resultam da necessidade de, no meio de uma multidão, me refugiar perto de gente com quem possa conversar. Pessoas que têm comigo algum tipo de afinidade, por pequena que seja. Multidões e solidões não são para mim grandes conselheiras. Fujo das duas ! Mas não raras vezes me deixo "enganar" por uma ou por outra, conforme o tempo e o lugar. Curioso o facto de o Senhor Jesus ter tido algumas vezes a necessidade de se afastar das multidões. Sózinho para orar ao Pai, ou com os amigos próximos ou discípulos, retirava-se não poucas vezes para convívios serenos ou diálogos prenhes de ensino de Sabedoria Divina. Muito desse ensino, ficou para nosso próprio ensino no Novo Testamento da Bíblia Sagrada. Apesar de tudo, e mesmo não gostando de multidões ou solidões prefiro as segundas. Remetem-me sempre para dentro de mim, onde estou num território que aprendi a conhecer ao longo dos anos de vida que levo e onde me sinto batedor de paixões e caçador de mim próprio, nesse terreno tão propício onde coraçãos saltam descompassados a cada centímetro na busca do tempo perdido em laços e armadilhas que a vida nos arma. Sinto Cristo no meio de solidões, posso vê-lo na expectação das multidões. Amo-o independentemente de umas ou outras. Multidão é para mim sinónimo de confusão. Disso não gosto assumidamente. É por isso também que não gosto de Albufeira, no Algarve. Mesmo que tivesse a melhor praia do mundo, continuaria a não gostar. Para além do mais, tenho "memória de gato" no que a água diga respeito ! Voltei a "casa". Estou no Sotavento.
. Jacinto Lourenço