segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Judeu eleito para órgão da Fatah

Judeu israelita anti-sionista eleito para órgão da Fatah
Um judeu israelita foi hoje eleito para o Conselho Revolucionário da Fatah, no dia em que finalmente encerrou a conferência da facção em Belém, Cisjordânia. Trata-se do militante anti-sionista Uri Davis. A Fatah anunciou hoje os nomes dos 80 novos membros do Conselho Revolucionário, para o qual foram eleitos sobretudo membros da Fatah com menos de 40 anos e ainda várias mulheres, entre elas a mulher de Marwan Barghouti, o palestiniano condenado e preso em Israel que estava entre os escolhidos para o Comité Central da Fatah, segundo a agência palestiniana Ma’an. O Comité Central é o organismo mais importante do movimento, seguido do Conselho Revolucionário. Davis é professor de Sociologia na Universidade Al-Quds de Jerusalém e vive na Cisjordânia. O professor de 66 anos é casado com uma palestiniana. “Tenho nacionalidade israelita e britânica, mas considero-me sobretudo palestiniano”, disse Davis, ontem, à AFP. O professor universitário refere -se ao Estado de Israel como um estado de apartheid e defende boicotes às suas instituições. Davis preferia ver um estado democrático comum para israelitas e palestinianos.[...]
In Jornal Público de 15 de Agosto de 2009
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Admito que lancei o olhar por umas duas ou três vezes para a Notícia do Público afim de validar que o título do artigo estava correcto e alinhado com o texto a seguir. E não restaram dúvidas. Era mesmo! Estava lá: "Judeu israelita anti-sionista eleito para órgão da Fatah" . Pensei: "não pode ser, o homem não pode ser judeu israelita. Lá o ser anti-sionista ainda é como o outro; eu também o sou, naquilo que essa expressão modernamente adquiriu enquanto "semi-metáfora" ( se é que esta coisa de semi-metáfora alguma vez se possa entender o que seja - mais do que provavelmente, só eu perceberei como semelhante figura possa servir na interpretação de qualquer texto . Mas como já existe a semi-colcheia... pode ser que a coisa passe aos puristas e "fariseus" da língua ) de crimes contra a humanidade". Agora, judeu israelita e ainda por cima dirigente da Fatah.... Não me deixei intimidar pela coisa em si e arrisquei de imediato: "isto é a minha cabeça que está formatada desta maneira" - sim, porque eu tenho uma cabeça formatada pela cultura ocidental-americanizada e normalmente pró-judaica, para além, claro, de manter uma manifesta simpatia, por Israel, enquanto nação e povo, sendo que isso não me impede de ser dotado de senso-comum e razão para poder olhar, com olhos humanos, mais ou menos friamente, o que assiste justamente ao povo palestiniano . Então percebi, de imediato, o porquê da minha admiração pela notícia do Público. Mas sou dos que desarmam rapidamente sem explorar a coisa até ao fim... Vai daí, imaginei de imediato, que, um dia, ainda veríamos, igualmente, um membro da Fatah a entrar, calma e descontraidamente , com um jornal palestiniano debaixo do braço e tomar, confortavelmente, o seu assento no "Knesset" (parlamento Israelita situado em Jerusalém ), e ler a notícia do dia editada em duas línguas de forma a que tanto Israelitas quanto Judeus entendam que a Paz não pode ser uma "semi-metáfora". Claro que, depois temos a Bíblia... mas aí não vejo razões para que povos distintos não possam ser bons vizinhos e cooperem um com o outro no sentido da dignificação de ambos, mesmo que isso não tenha que significar andarem sempre aos beijos e abraços ( que é uma coisa que povos do médio oriente adoram fazer ). Já não era muito mau que se calassem as armas e se acabasse de vez com a linguagem "semi-metafórica da guerra", que isso sim, não tem razão para existir, mesmo que o futuro não assente num passado percorrido lado a lado. Mas em política raramente isso acontece, e eu só estou a falar de política...
Jacinto Lourenço