segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Barriga Grande, barriga pequena

“(…) nos bons velhos tempos, havia mil castas e destinos na Índia. Hoje em dia, existem apenas duas castas: Homens de Barriga Grande e Homens de Barriga Pequena. E apenas dois destinos: comer – ou ser comido.”
(Aravind Adiga, O Tigre Branco, Ed. Presença, p 55)
Adiga, o escritor indiano que ganhou o Man Booker Prize 2008, graças ao seu romance de estreia, O Tigre Branco, o qual lança “um olhar irónico, a partir de dentro, sobre a riqueza da Índia e uma descrição incisiva das maquinações no interior da corrupta classe dominante”, segundo a crítica do The Washington Post, obriga-nos a pensar, sem querer, na realidade portuguesa actual.Aí, o sorriso esvai-se, por mais uma vez se perceber que a natureza humana é a mesma, independentemente das latitudes, influência e percursos históricos. Também nós, Portugueses, estamos a ficar divididos entre nós de acordo com o tamanho da barriga.O autor parece sugerir que o sistema de castas, apesar das suas imensas aberrações e injustiça social decorrente, organizadoras da sociedade desde tempos ancestrais, seriam porventura menos confusas e injustas do que a corrupção dominante, cujo resultado final consiste em lutar com todas as armas para evitar que se seja comido.Por aquilo que se vê, uma grande parte dos portugueses sente exactamente o mesmo. Há um lamaçal de corrupção, cada vez mais visível, alimentado por boa parte do pessoal político que gravita à volta dos partidos, do futebol e das grandes empresas, e que sufoca a criatividade, condiciona a competência e limita a intervenção cívica de quem não se revê neste regime caduco. Numa palavra, tudo se resume a comer ou ser comido.Todos os partidos sem excepção são claramente responsáveis por este estado de coisas, porque todos, sem excepção, manifestam comportamentos corruptos, por muito que falem em nome do povo, dos trabalhadores, do mercado, da economia, da classe média, dos pobres, das minorias ou de quem mais for. A corrupção e até o crime parece que compensam, desde que se consiga continuar a assegurar apoios eleitorais importantes.É por isso que os indivíduos mais preparados, competentes, capazes, sérios e criativos se afastam do meio, por nojo.Como eu os entendo.
Brissos Lino