terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Ceias de natal.

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Isaías 9:6

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Hoje de manhã, ao preparar-me para sair de casa, veio à minha mente este versículo bíblico. Como habitualmente faço, ouvia as primeiras notícias do dia na Antena 1 e, com elas, a de que os dois maiores partidos portugueses tinham realizado os seus jantares de natal, no mesmo dia, na mesma noite, a de ontem. Ora, como sou uma pessoa adulta, resolvida e medianamente inteligente, não estava à espera naturalmente que os dois líderes partidários se tivessem dedicado, mutuamente, poemas ou canções de natal, ou mesmo uma simples mensagem de boas festas. Mas também não esperava que o Natal, ou um simples jantar de natal, à volta do qual as pessoas normalmente se reunem para comer, beber e falar de tudo menos daquilo que é o Natal, viesse a servir de mote para que os líderes partidários, pessoas de quem devíamos esperar atitudes minimamente positivas por esta altura, se dirigissem mensagens, sim, mas de ataque pessoal e político, transmitindo desta forma, a ideia de que aquilo que conta não é o país ou as pessoas mas as suas intrigas político-palacianas, contrariando até o espírito deste natal “humanista” com que somos brindados pela sociedade mercantilista . Claro que não sou ingénuo, mas caramba, pelo menos que, nessa noite, em que juntam as suas hostes para um suposto jantar de natal, se coibissem de se digladiar e agredir e passar dessa forma mensagens negativas para a nação. Várias questões se colocam: desde logo saber como é que se pode confiar em alguém que nem por altura do Natal se coibe de trazer para terreiro todo o fel que nutre pelo seu adversário político ? Que mensagem passam à população, estes dois partidos, os que normalmente alternam no poder, e que utilizam a época natalícia para continuar a lavar a sua roupa suja ? Que expectativa podemos ter nós, portugueses, para o futuro do país, liderado por gente que não sabe avaliar, pelo menos, o significado de um jantar de natal em que, no mínimo, se pede contenção e decoro ? Decididamente ( embora já o soubéssemos ) a mensagem de Cristo, não traduz nenhuma expressão ou significado, que vá além da banalidade para a generalidade das pessoas que se juntam em ceias de natal que se multiplicam aos milhares nesta época. O texto bíblico do livro do profeta Isaías, que acima reproduzo e que foi escrito setecentos anos antes do nascimento de Cristo, não perdeu nenhuma actualidade e continua a apelar ao espírito de mansidão e concórdia, que é aliás o mesmo presente na mensagem de anunciação quando do nascimento de Jesus. Bom era que quando nos reunimos sobre a égide do Natal, à volta de uma mesa, pensássemos, por breves instantes, acerca do propósito que ali nos conduziu e que essa reflexão servisse para projectar uma mudança de coração e de postura face ao nosso próximo, nos tempos futuros. Há um conjunto de razões que justificam que eu não troque o calor da minha lareira e do convívio familiar, nas noites desta época, por qualquer “jantar de natal”; algumas dessas razões estão plasmadas neste texto.
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Jacinto Lourenço