sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

"Ser César ou Nada"

( Foto in Púlpito Cristão )

A universalidade do desespero humano foi uma das principais análises existenciais de Soren Kierkegaard (1813-1855) sobre a complexidade da vida. Para este pensador que estabeleceu a existência individual como o centro de suas reflexões, o desespero humano é uma doença mortal, um morrer sem todavia morrer, a enfermidade do eu.O caminho do desesperado é "viver a morte a cada dia", tentando desesperadamente livrar-se do eu que não quer ser. Mas o suplício do homem distante de Deus é que não há meios de libertar-se de si mesmo. Nas palavras de Kierkegaard: "desesperar-se de si mesmo, querer, desesperado, libertar-se de si mesmo, essa é a fórmula de todo o desespero". O homem que se desespera de si, e quer libertar-se do seu eu, procura a libertação tentando ser um outro alguém. Brilhantemente Kierkegaard diz que esta ambição existencial pode ser comparada ao sujeito que diz: "Ser César ou nada". A tragédia armada, no entanto, é que se "não consegue ser César, desespera, e por não ter se tornado César que ele já não suporta ser ele mesmo".Penso que este desespero é acentuado quando orientamos nossa vida pela via da comparação, isto é, quando analisamos nossa existência em associação com alguém cuja vida é mais interessante e empolgante que a nossa. Como disse Brennan Manning: "Estou bem comigo mesmo até que eu me comparo com Madre Tereza". Isto não significa que não posso tê-la como exemplo ou referência (ninguém vive sem padrão referencial), mas o que passar disso é "doença mortal"."Todas as tentativas de medir o valor de nossa vida por meio de comparações com os outros depreciam os nossos dons e desonram a Deus por causa de nossa ingratidão" Viver a vida se comparando aos outros é viver uma vida desprovida de graça. Sim, pois quem vive o tempo todo comparando-se aos demais certamente trilhará o caminho mais rápido para o descontentamento. A via da comparação como regra existencial para a vida é um ato de auto-violência ao próprio ser. Ninguém que vive tempo todo se comparando pode desfrutar do que já é ou do que possui. Aquele que vive a comparar-se é um eterno insatisfeito.O meio de viver em paz com o eu é mergulhar pela fé no poder que o criou, isto é, Deus. A única forma de não perder o “eu”, deixando de existir, é livrar-se do desespero e reconciliar-se com a fonte desse “eu”, que é Deus. Pois de Deus recebemos tudo o que precisamos para viver em plenitude.
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Por Daniel Grubba
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