Senhor,
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se neste novo tempo
.
não me deres novas coisas
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para viver
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dá-me então um olhar novo
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sobre tudo
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o que já conheço.
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Obrigado.
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Brissos Lino 31/12/09
Via A Ovelha Perdida
Senhor,
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se neste novo tempo
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não me deres novas coisas
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para viver
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dá-me então um olhar novo
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sobre tudo
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o que já conheço.
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Obrigado.
***
Brissos Lino 31/12/09
Via A Ovelha Perdida
Sei que não preciso explicar, mas estou crescentemente apaixonado pela vida. Amo a vida porque as cores me fascinam, os gênios me intrigam, as poetisas me seduzem, os santos me quebrantam, os justos me desafiam, os solidários me estimulam. Tudo é esmagadoramente formoso.
Sei que corro o risco de ser redundante, mas estou crescentemente viciado em viver. Amo a vida porque os sabores me esfomeiam, os silêncios me atraem, os mistérios me intrigam, os horizontes me instigam. Já meio estrábico, encaro de perto o milagre da vida e fico sem reação. Tudo é avassaladoramente delicioso.
Sei que posso resvalar no lugar comum, mas estou fascinado com a aventura de viver. Amo a vida porque as mulheres me encantam, os altruístas me humilham, os sábios me instruem, os artistas me animam. A fertilidade criativa é infinita. As bibliotecas, um dia, não caberão tantos livros. O Louvre precisará de anexos. Quero viver até o final do milênio para testemunhar o que ainda será inventado, criado e recriado. Tudo é magnificamente grande. Sei que me repito, mas estou maravilhado com o dia a dia. Amo a vida porque não espero o previsível, não aceito a manipulação dos espertos e não convivo com o domínio dos poderosos. Acolho o insólito e enfrento o traumático para não fugir da realidade da dor. Se evito as atrocidades é para nunca afeiçoar-me com o mal. Tudo é poderosamente desafiador.
Sei que retorno ao mesmo tema, mas estou deslumbrado com as contradições da vida. Amo a vida porque sofro com angústias que não são minhas e abrigo felicidades alheias. Eu e meus irmãos somos paradoxais, saltamos como a corça e nos entocamos como a lebre, rujimos como o leão e bailamos como o colibri. Celebro a liberdade de orvalhar o papel com as lágrimas da poesia e encharcar a camisa com o suor dos meus ideais. Tudo é fantasticamente misterioso.
Sei que posso arrefecer a força de minha escrita, mas estou colado ao ofício venturoso de viver. Amo a vida porque tento entupir o ralo por onde podem descer os poucos dias de minha vida, escapo do banal. Parei de dissimular, não pretendo ver-me consumido com ódios que gastam tanta atenção. Prego em tábuas as memórias para não deixá-las fugirem. Se me comparocom os amigos que envelheceram é para dizer: Meu Deus, eles se desgastaram mais do que eu! Disponho-me a pagar o preço da longevidade. Não invejo o Monumento ao Soldado Desconhecido e nem as flores que recebeu do imperador. Não desejo a sorte dos Camelots: John Kennedy, Che Guevara, James Dean, Lady Diana - todos morreram cedo. Tudo é fortemente cativante.
Sei que preciso enfatizar, mas eu preciso dizer a mim memso que é bom viver. Amo a vida porque engasgo com o semblante do noivo naquele instante mágico em que a porta da igreja se abre para sua noivinha vir dizer sim. Emociono-me com o café que incensa a manhã pueril. Ouço a canção da menina desafinada como de uma soprano erudita. Leio o bilhete do presidiário como um tratado filosófico. Acolho as razões da avó como verdades inquestionáveis. Tudo é profundamente sensível.
Sei que posso dizer mais uma vez, e em letras garrafais: Eu amo viver! Amo a vida porque perdi a pressa. Desisti das omnipotências, abri mão da perfeição e comecei a perceber que Alguém me ama sem que precise provar nada para Ele. Tudo é infinitamente gracioso.
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Soli Deo Gloria.
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Via Blogue pr. Ricardo Gondim
O primeiro dos dilemas é criar ou não criar. O segundo é criar com liberdade ou sem liberdade. O terceiro é assumir o ónus da liberdade ou deixar este ónus nas mãos da criatura. Deus faz as escolhas que o machucam, que lhe causam dor, que o fazem sofrer, que o diminuem. Simone Weil diz que “Deus e todas as suas criaturas é menos do que Deus sózinho”. Deus escolhe criar. Escolhe criar um ser livre, pois se não fosse livre não seria à imagem do Criador. E escolhe arcar com ónus da liberdade que concede à sua criatura. Na cruz de Cristo está Deus, dando ao rebelde o direito de existir. Na cruz de Cristo está Deus, entregando a sua vida, voluntariamente, em favor dos pecadores. O mal deflagrado pela raça humana levanta a sua sombra sobre o trono de Deus. E Deus levanta-se como um Cordeiro que se doa, pois escolhera morrer, em detrimento de matar. Na cruz de Cristo está o Deus que morre para que todos tenham vida, vida completa, abundante vida.
A palavra "cosmos", traduzida em nossas bíblias como "mundo", significa originalmente "ordem", sendo o antônimo de "caos", ou "desordem". As Escrituras afirmam que a presente ordem jaz no Maligno. Na Cruz, o Velho Mundo recebeu o golpe fatal. O último suspiro de Cristo foi o último suspiro da velha ordem iniciada em Adão. Por isso Paulo podia declarar convictamente que o mundo fora crucificado. Ele agora é um cadáver em decomposição. Já morreu, mas ainda mantém a aparência de que vive. Mas a aparência deste mundo passa. Não há pulsação, nem reflexo, apenas aparência. A Cruz não foi apenas um lugar de morte. Foi também um lugar de Concepção. De acordo com Paulo, céu e terra convergiram em Cristo, e na Cruz contraíram núpcias. E o fruto desta união é a concepção de um novo mundo, isto é, de uma nova ordem, contrapondo-se à velha ordem danificada pelo pecado, e ao caos original.
O Novo Mundo é uma criança recém-concebida, ainda em estado embrionário, mas prestes a nascer. Já fora concebido, mas ainda não nasceu. Está sendo gerado no útero da nova humanidade, a quem as Escrituras chama de ekklesia (igreja). A Igreja ( com "I" maiúsculo) é o útero, enquanto que a "igreja instituição" é a placenta. A hora do parto se avizinha. E quanto mais próxima, mais fortes são as contrações, as tais dores de parto a que se referem Jesus e Paulo. Terremotos, tsunamis, furacões, e outros catlamismos são contrações de uma criação em estado avançado de gravidez. Aumenta-se a intensidade das contrações, e diminui-se o intervalo entre elas. Em breve a bolsa vai se romper, o líquido amniótico será derramado, e um novo cosmos emergirá. Então, em vez de dizermos "Adeus ano velho, feliz ano novo", diremos: "Adeus mundo velho, e feliz mundo novo!".
Eu bem avisei que o pai natal não era de fiar, mas as pessoas insistem...
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Faz um ano, hoje, 23 de Dezembro, que este Blogue, o Ab-Integro, se deu a conhecer pela primeira vez. Correu depressa, o tempo. Se nos tivessem dito então que, percorrido este tempo, iríamos alcançar um total de perto de vinte mil acessos, seria difícil imaginar tal meta, especialmente tratando-se de um Blogue de matriz cristã em que a principal preocupação não é que o seu editor fale de si próprio, da sua vida, dos seus anseios, preocupações ou desafios, mas sim que seja um ponto de encontro, um veículo de comunicação, um espaço alargado de reflexão fundado sobre a integridade da vida, da visão e da esperança cristã. O nosso desiderato é, em primeiro lugar, que o Ab-Integro cumpra esse objectivo; depois, que possa ser uma casa comum onde todos os que o acessam se sintam bem. Claro que tem, este Blogue, uma personalidade própria, e isso está presente mesmo que os temas abordados ou mesmo que uma parte dos textos editados não sejam da nossa autoria ( respeitando sempre escrupulosamente as fontes ). Há um fio condutor, um perfil próprio que o define e o baliza e a que são transversais vectores tão importantes quantos os que são determinados pelas artes, a cultura, a astronomia, a história, as ciências, a arqueologia, a vida, o planeta, as pessoas, as religiões, a igreja cristã, para além de outros. Mas há uma Trave Mestra que nos suporta e anima nesta caminhada: Jesus Cristo nosso Senhor e Salvador. Ele é o mentor do Ab-Integro e sua máxima referência, o bastião em que nos resguardamos, a Razão pela qual chegámos até aqui e pela qual queremos continuar a caminhar.
Até hoje muitos têm sido os amigos e companheiros que nos têm animado a proseguir não deixando nunca de nos incentivar. Colaborações, como a do poeta, e meu amigo João Tomaz Parreira, escritor e pensador cristão-evangélico notável, reconhecido não só em Portugal mas igualmente além-fronteiras, honram não só o Ab-Integro como a mim próprio.
O meu coração dilata-se em gratidão a Deus e a tantos quantos os que, de uma ou de outra forma, têm tornado possível esta "aventura", mesmo se a caminhada encontrou alguns escolhos. Oxalá que os desafios que temos pela frente, com a continuada edição do Ab-Integro, nos permitam estar à altura dos mesmos com toda a dignidade e com os olhos postos nAquele que é Luz e Vida para nós.
Recuperamos, abaixo, partes do texto que editámos, faz precisamente um ano hoje, em 23 de Dezembro de 2008, e que servia de mote ao lançamento do Ab-Integro nessa data. Com a vossa ajuda, continuaremos no Caminho que nos trouxe.
Grato no Amor de Cristo,
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É um salmo que trata sobretudo dos atributos de Deus e dos limites do Homem. Para o bispo anglicano era o salmo da profundidade de Deus.
Para nos ajudar a entender a incomensurável distância que vai entre esses atributos divinos e o homem limitado, o salmista usou uma linguagem poética com referentes e objectos comunicáveis, que o nosso espírito e a nossa mente podem compreender.
Situa-nos, por assim dizer, num Átomo divino, numa pequeníssima parte das faculdades distintivas e únicas de Deus, contudo distante do pensamento humano e usa um termo que viria séculos depois, dizendo que «tal conhecimento (ciência) é maravilhosíssimo».
Tal «ciência» (na versão das nossas Bíblias) ou o que o salmista entende como tal, reflecte o que o termo hebraico ( da’ath) significa e amplia: conhecer ou saber acima de.
Introduz também o leitor crente nos domínios da relação de Deus com a Sua Criatura, o homem, e, segundo alguns autores, o homem crente, porquanto o Senhor está ao redor daqueles que o temem e sobre eles coloca a Sua mão
Não deixa, porém, de colocar a limitação do ser humano perante o Todo-Poderoso, ao pôr na boca do Eu poético estas palavras de resignação à condição humana: «Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face?» (vs.7)
Mais de vinte e cinco séculos depois da criação literária do Salmo 139, como uma produção do sentimento religioso, da inspiração espiritual e de uma categoria lírico-poética da literatura nacional hebraica, um bispo anglicano do século XX, John Albert Thomas Robinson, afirma que se trata de «uma meditação penetrante sobre a presença de Deus», no mundo que Ele próprio criou.
Escreveu para reforçar o que classificou de retorno ao que a Bíblia nos diz acerca da natureza de Deus, o seguinte: «É no salmo 139 que se encontra uma das meditações mais penetrantes, em toda a história da literatura, sobre o sentido e a presença de Deus. Nele perpassa, como em nenhum outro trecho, o sentido da maravilha suprema irresistível da omnipresença divina em todas as direcções – acima, abaixo, atrás e à frente.»(Um Deus Diferente, Morais Editora, 1967, págs. 70/1
É salmo que tem o locus classicus para a doutrina da omnipresença e da omnisciência de Deus.
Esta afirmação seria comum e resultante de uma normal análise de conteúdo do discurso poético do salmo em questão, não fosse ela pronunciada por quem foi, por isso não é um pronunciamento trivial.
A verdade é que, não sendo tal apreciação do bispo anglicano contestável, foi-o porém o seu autor enquanto uma totalidade personalizada numa marca teológica que colocava com honestidade intelectual e espiritual as suas dúvidas numa década especial, que foi a de 60.
«Às vezes, também eu me sinto assediado por estas dúvidas»- escreveu Robinson. No tempo em que se questionava se era de facto o vazio que muitos sentiam, «um vácuo em forma de Deus», especialmente na Europa pós-nazismo.
Tratava-se de um teólogo controverso e um dos criadores da teologia radical protestante dos anos 50 e seguintes. Não uma teologia heterodoxa, contrária ao Evangelho, mas radicada no que ele chamava um cristianismo de raiz ( daí o termo radical) que deveria chocar pelo radicalismo cristão, porque era, segundo ele e nós próprios ainda hoje, necessário apresentar o Deus da Bíblia ao homem hodierno que acha que não precisa de Deus, que Este está «lá em cima» ou em outro qualquer lugar e desinteressado dos problemas «cá de baixo», e do próprio homem.
Foi o mesmo teólogo e bispo de Woolwich, na Grã Bretanha, que proferiu um aforismo cristão genial, que a Igreja não deve estar tão longe do mundo que ninguém a ouça, nem tão dentro que não se distinga (citei de cor e sem referência).
A sua preocupação levou-o porém a defender algumas posições que acabaram por ser controversas, sustentando-se sobretudo no pensamento teológico de Rodolf Bultmann, que o homem secular já não admite que Deus é real nos nossos dias. E também que as Escrituras estão antiquadas quanto a fazerem compreender o ponto de vista de Deus presente no mundo tanto quanto Deus «lá em cima».
John A.T.Robinson marcou, de facto, o início da década de 60 ao radicalizar a teologia protestante e ao retomar a ideia luterana do Deus Absconditus.
Contudo, a partir do facto de que se trata de uma prova da presença de Deus no mundo, transcendente ao universo, mas imanente à Sua Criação, integra o salmo na sua mais polémica obra, Honest to God (Um Deus Diferente), de 1963, a contra-corrente, todavia como a mais perfeita doutrina da Omnipotência e da Omnisciência de Deus, que é o salmo 139.
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João Tomaz Parreira
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-Colaborador-