sexta-feira, 10 de setembro de 2010

De volta à Idade Média

Podia ser um Ímã, um Ayatollah, um Padre, um Bispo, ou até um Leigo de uma qualquer religião. Mas não. É um senhor que se denomina pastor evangélico de uma igreja cristã evangélica, ao que se percebe, sem grande relevância nos Estados Unidos. Decidiu, este indivíduo que se afirma pastor, que iria fazer uma queimada de livros do corão para, presume-se, lembrar o acto criminoso de outros extremistas, de outra religião, tão criminosos como ele. Sim porque qualquer pessoa que ameace ou atente contra a vida de outras pessoas em qualquer parte do mundo, só pode ser isso mesmo: criminoso ! Não sei qual o Instituto Bíblico onde este homem de bigode arrevesado fez o curso que o habilita a dizer-se pastor mas, quanto a mim, esse instituto devia ser investigado por passar diplomas a gente desta. Um pastor não é isto que os orgãos de comunicação têm mostrado. Um pastor está nos antípodas do que este norte-americano configura para o exterior e, pelos vistos, para o interior da sua igreja. Um pastor tem que ter no seu espírito e alma, inscritas, permanentemente, as palavras Concórdia, Perdão, Amor, Consagração, Reconciliação, só para citar algumas que são pontos cardeais pelos quais o seu ministério pastoral se orienta e baliza. Não cumpridos estes critérios mínimos, não pode estar-se na presença de um pastor, quando muito, e à vista dos actos que pretende perpetrar e das palavras odiosas que tem transmitido, estaremos na presença de um louco, e o problema é que a globalização oferece tempo de antena q.b. a loucos e criminosos. Mais do que provavelmente, se este dito pastor o fosse efectivamente e tivesse a presunção de sair para a rua, e se postasse em frente à sua casa de oração a pregar o evangelho de Cristo e a apelar à reconciliação dos homens com Deus e entre eles próprios, a atenção que os media lhe dariam seria igual a zero; não era notícia nem na América nem na Europa nem em qualquer lugar do mundo. As pessoas passariam e continuariam o seu caminho como se nada de novo ou interessante estivesse a acontecer. Mas mais do que provavelmente também, a este dito pastor, também não sobram tempo nem disponibilidade espiritual para pregar o Evangelho de Cristo nem a mensagem do Amor de Deus. A sociedade que integramos é isto mesmo. A loucura, o crime, a guerra, a anormalidade, são sempre notícia. O bem, o belo, o bom, o Amor, passam despercebidos. E pelos vistos qualquer transtornado de ocasião é capaz de concitar a atenção de chefes de estado e movimentos de multidões em todo o mundo. Ou seja, qualquer homem, por mais ignaro que seja, é um rastilho capaz de fazer explodir esta enorme bomba global da instabilidade política, social e religiosa e levar o mundo para o caos, e o pior é que as democracias, que querem afirmar-se tão respeitadoras da liberdade individual o permitem e até, indirectamente, defendem e protegem tal como protegeram Hitler e suportaram, ao limite da estupidez, as suas atitudes belicistas que culminaram no despoletar da 2ª guerra mundial em 1939. Do meu ponto de vista, quem não respeita os direitos dos seus concidadãos ou os ofende continuada e recorrentemente, não pode andar à solta. Este senhor, que se diz pastor, devia estar na prisão com a pena acessória de ter que escrever repetidamente num quadro, milhares de vezes, para o resto da sua vida, e até perceber o seu significado ou até que se arrependesse do mal que está a provocar, a palavra Amor.
Quantas mais "Noites dos Facas Longas", ou sucedâneas, teremos ainda que suportar sem dizer nem fazer nada para as evitar ? Afinal, Saramago, em certa medida, sobre a religião, exclusivamente em si mesma, era capaz de não estar errado de todo : “as religiões, todas elas, sem excepção, nunca serviram para aproximar e unir os homens. pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da história humana”.
*** Jacinto Lourenço