domingo, 5 de setembro de 2010

A Parte boa das Férias...

Ao partir para férias, já sabia que seriam as mais prolongadas dos últimos anos, não significando, necessariamente, que fossem as mais descansadas; a necessidade de vários trabalhos de conservação na casa da família, na província, faziam antever precisamente o contrário de descanso físico e de colocar em dia algumas leituras necessárias. Em qualquer caso, faz-nos sempre bem quebrar rotinas, romper com hábitos urbanos. Mesmo que cansemos o corpo, descansamos a mente e preparamo-nos para novos horizontes.
Quando parti para férias, já sabia também que, ao regressar, encontraria definitivamente encerrada a empresa onde tenho trabalhado nos últimos anos e que, portanto, eu seria mais um a enfrentar o espectro do desemprego forçado por uma declaração de insolvência que esconde por detrás a deslocalização para um país de economia emergente e de mão de obra mais barata. O travo que nos fica é sempre amargo, mesmo se a esperança de encontrarmos um novo rumo profissional, rapidamente, se mantém. Afinal de contas, o capital de experiência acumulado por tanta gente como eu, ao longo de anos, não pode ser despiciendo para qualquer país que pretenda ganhar o futuro.
O que me preenchia a alma, na saída para férias, era tanta coisa que tomei a decisão de não aceder à internet, não actualizar o Ab-Integro e não ir ao meu perfil no Facebook durante as três ultimas semanas que terminaram precisamente ontem. Confesso que resisti a várias tentações de romper com esta decisão; valeu, na circunstância, a "ajuda" providencial dos meus filhos que me canibalizaram o plafond disponível da banda larga móvel. Devo dizer que não foi fácil. Aproveitei para alguma leitura, a possível, umas espreitadelas ao firmamento através do meu telescópio e a urgente recomposição do físico pouco habituado aos trabalhos a que estava a ser sujeito ( não se entenda isto como queixa, até porque o labor preponderantemente físico traz algumas compensações ao descanso nocturno - dormimos com os anjos ).
A parte má das férias é quase sempre quando elas terminam. No caso de qualquer português, na actualidade, é pior ainda porque fomos abalroados por acontecimentos que seguramente dispensaríamos: processo Casa Pia, incêndios, rentrée da nossa triste realidade política, desemprego a bater nos 11%, processo Queiroz versus Autoridade Anti-Dopagem, a selecção que, com o seu desempenho futebolístico de 4 - 4 frente a essa "grande potência do futebol internacional" que é o Chipre, não ajuda nada à nossa auto-estima, ver nos jornais que o nosso PIB, em 2010, será de € 173 mil milhões e que o da Holanda ( menos de metade do território português e apenas mais cerca de 5 milhões de habitantes ) é de € 618 mil milhões e que - pior ainda - o da Bélgica ( um estado que promete a si próprio um futuro incerto quanto à unidade como nação ) é de € 366 mil milhões e que o consegue em cerca de um terço do território português e mais ou menos com o mesmo número de habitantes, são factos que não nos podem deixar particularmente optimistas e felizes, embora façamos um grande esforço para contrariar isso.
A parte boa das férias, quando elas terminam, é que voltamos à casa do Pai, à comunhão da igreja, à partilha do pão e do vinho. Voltamos a abraçar amigos e irmãos de cujo convívio estivémos privados algumas semanas. Voltamos também ao convívio insubstituível da família, do prazer da a ter toda reunida à volta da mesa.
Terminadas as férias, percepcionamos desafios, mas olhamos os "gigantes" através da visão de Deus. Sabemos que não podemos desistir. Somos cristãos e, como dizia hoje pela manhã, na sua mensagem, o meu amigo e pastor Brissos Lino, "ser cristão não é um objectivo é antes uma caminhada". É por isso que olhamos o fim das férias como o início para novos desafios, para a continuação da jornada.
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Jacinto Lourenço