Todos sabemos de que sem a compreensão e aceitação do passado, do nosso passado, dificilmente conseguiremos projectar o futuro. Guimarães, mesmo não sendo consensual, é assumida como o “berço” da nossa nacionalidade. Aceita-se ( ou não ) que daí se gizaram os planos de D.Teresa e depois D. Afonso Henriques, seu filho e primeiro rei de Portugal, para o alargamento do reino. Do mal o menos, que nessa altura ainda se faziam planos e o reino tinha objectivos, mesmo que esses não passassem, principalmente, pelos interesses colectivos da nação mas sim pelos do rei e de alguns cavaleiros, enquanto senhores feudais. O que nos deve preocupar, actualmente, como nação, já não é a conquista territorial mas antes a incerteza e dúvida da sobrevivência e do futuro, e não estou apenas a falar do futuro de um povo com uma identidade orgulhosamente vincada, mas sim da dúvida em haver viabilidade na manutenção dos fundamentos básicos dessa identidade.
Arrisca-se Portugal a que daqui por mais alguns anos nenhum cidadão, por cá ter nascido, queira sustentar na sua identidade tamanho estigma, o de ostentar no seu passaporte a nacionalidade de um país que o rejeita, mas que recorrente e obstinadamente o mandou "pastar" para outras paragens, de preferência bem longe daqui da península.
Pelos vistos, temos aprendido muito pouco com a nossa própria história; e a nossa história, ao contrário do que os anais da generalidade dos reis nos falam, é feita mais de momentos menos bons do que de momentos felizes, do ponto de vista colectivo. Mas sobrevivemos e mantivemos, apesar de tudo, a nossa identidade. E é por isso que nos dói, ainda mais, constatarmos que, precisamente agora, quando mais precisávamos de uma identidade colectiva menos nos queiram fazer acreditar nela.
Pelos vistos, temos aprendido muito pouco com a nossa própria história; e a nossa história, ao contrário do que os anais da generalidade dos reis nos falam, é feita mais de momentos menos bons do que de momentos felizes, do ponto de vista colectivo. Mas sobrevivemos e mantivemos, apesar de tudo, a nossa identidade. E é por isso que nos dói, ainda mais, constatarmos que, precisamente agora, quando mais precisávamos de uma identidade colectiva menos nos queiram fazer acreditar nela.
Que Portugal se tenha perdido, irremediavelmente, enquanto unidade política e territorial soberana, na justa medida em que perdeu as oportunidades de desenvolvimento social e económico que lhe têm sido abertas, eu percebo muito bem, porque sei exactamente como, quem fez perder e quando e onde se perdeu Portugal. Mas que nos queiram agora fazer crer que nós, portugueses, os dez milhões, ( descontadas as sanguessugas políticas e económicas que se vestem de bandeiras costuradas à pressa ) estamos também perdidos de Portugal enquanto nação, isso não aceito, porque eu, e todos os outros portugueses, os que podem ostentar esse nome sem necessidade de ir à televisão fazer dele proclamação, carregamos às costas este país, o mais velho da Europa, se atendermos às fronteiras em que nos encerramos há mais de nove séculos.
Mas nove séculos podem não chegar para fazer grande um país, uma nação. Eu concordo com alguns historiadores, que defendem nunca ter o país passado por um verdadeiro feudalismo como a generalidade da Europa, na idade média. Mas acho também que o que tivemos foi mais, e sempre, um “feudalismo” tardio, feroz , mascarado de neoliberalismo facínora, nos últimos decénios , e que canibalizou, nos derradeiros 20 ou 30 anos, literalmente, o que a a Europa desenvolvida enviou para Portugal, facto que nos levou ao tapete da história onde agora nos encontramos para sermos pisados por todos os que sempre desacreditaram e desdenharam de que, só por si, a história faria uma nação apenas porque já lhe deu 900 anos. E o pior é que provavelmente têm razão.
Infelizmente a história, em Portugal, foi sempre o prado onde o gado feudal pastou o povo, mesmo se isso se fez com a suposta validação democrática desde o 25 de Abril de 1974.
O que me falta saber é se, como povo, merecemos ou não isto, carregar um país que não nos quer nem nos deseja se não pode estar permanentemente a mirar-nos os miseráveis bolsos coçados do uso. Ou se queremos continuar a, "carneiramente", deixar que nos pastem...
Enquanto isso afunda-se o povo na sua dor identitária, sempre a desejar que Alcácer Quibir lhe resgate as perdas de sonhados impérios.
Jacinto Lourenço