terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Um Calendário que não Muda nada...


Provavelmente por me deitar na véspera um pouco mais tarde e, por consequência,   acordar mais tarde do que o habitual no dia seguinte, o primeiro dia do ano não traduz para mim mais do que isso, se descontarmos, é claro, o facto de governo e outras quantas entidades fornecedoras de serviços e alguns bens essenciais à sobrevivência humana escolherem esta data como referência para dispararem aumentos sobre tudo o que mexe. Ou seja, o que quero dizer é que a mudança de calendário e de ano civil a 01 de Janeiro não significa mais do que mudar de dia ou de semana ou de mês como sucederá noutra ocasião qualquer, e confesso que me custa  compreender a aposta que  fazem muitos milhões de pessoas  em festas, regra geral excessivas, nesta data. Mas pronto, o problema deve resumir-se à minha pessoa em particular  já que considero que o ano, para mim, só muda  quando chega cada 21 de Março, que foi quando nasci biologicamente como ser humano,  ou também cada 21 de Novembro quando "nasci de novo" no cada vez mais longínquo ano de 1971.

Mas se há neste corrente ano de 2012 e nesta transição de calendário,  alguma coisa que concite a minha especial atenção ela prende-se com a maldade das medidas que serão  impostas ao povo português. Maldade pela dura injustiça que revestem. Maldade também porque apontam a alvos errados e que, ao contrário de outros na sociedade portuguesa  que escapam para outras paragens logo que desconfiam do aumento da carga fiscal, são estáticos no sentido em que não podem desviar-se da severidade discricionária das medidas governativas. Os políticos sabem isso e é por isso que também usam de complacência para com quem se pode mover e de rigor e mão pesada para quem não pode fugir. Contudo o  que eu acho que  fará com que as medidas governativas aplicadas este ano em Portugal sejam eivadas de maldade e injustiça  não é porque uns escapam e outros não o poderão fazer, mas antes porque muitos dos que contribuiram para a presente crise não pagarão um cêntimo,  e outros, a maioria esmagadora que não tem quaisquer responsabilidades na mesma  irão arcar com a totalidade dos custos dela resultantes.

Muitos  portugueses da classe média que votaram nas últimas eleições ainda não perceberam muito bem o que lhes está a acontecer. Não foi isto que lhes prometeram nas palavrosas campanhas partidárias. Não era isto que esperavam dos seus "queridos líderes".  A mim não me é pedido  pronunciar-me, de forma decisória, sobre a maldade que nos foi imposta; não estou no governo da nação, não sou presidente da república nem integro o tribunal constitucional ou o parlamento - que são as entidades que põem e dispõem cá no "quintal" . Pelos vistos só sou chamado a  sofrer e pagar os desmandos de outros, os que fazem parte dos tais "alvos móveis" ; mas estou certo de que, como noutras ocasiões, se as coisas melhorarem, ou quando melhorarem, iremos olhar para as grandes  empresas  públicas e privadas e constataremos que estes "queridos líderes" que a classe média elegeu para governarem em Portugal estarão todos dependurados, pecaminosamente, em importantes e  bem remunerados cargos dessas empresas. Em resumo: o mundo não muda porque o calendário mudou. O mundo só mudará quando a justiça e a verdade não forem palavras vãs entre os homens nem dependerem de nenhum calendário humano. Haverá um tempo assim, um tempo em que a maldade não será apenas depurada mas erradicada e então a Justiça será um padrão irrevogável e incontornável. Esse é o calendário que nenhuma contagem de tempo poderá fazer mudar.


Jacinto Lourenço