terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

"Panis et Circenses et Cultus"

“A antiga expressão latina, até hoje utilizada e musicada por Caetano e Gil, diz que se o povo tiver pão e circo (panis et circenses) tudo estará bem. Não importa se a vida política, religiosa e ética está gasta, a claudicar... desde que haja um pouco de alimento e riso, tudo estará bem.

Nos nossos dias, vendo a igreja evangélica atravessando “mares já antes navegados” (pois nenhuma heresia é nova) e que causaram naufrágios terríveis, essa expressão veio à minha mente, e decidi acrescentar um outro aspecto: culto (cultus). Quero interpretar como cultus tudo aquilo que é extático, tudo o que se refere ao sentimento, ou melhor, ao ênfase dado aos sentimentos.

Vivemos na era dos mega-eventos, shows, cultos cheio de pessoas vazias, não vazias de fé – é bom deixar isso bem claro – mas vazias de conteúdo, o que me faz lembrar o texto sagrado onde Paulo afirma: “Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento” . Note bem: não pretendo julgar as intenções. As pessoas têm zelo, são sinceras, fiéis, crentes , salvas, mas sem entendimento. Vão atrás das emoções, sentimentos. É bom deixar bem claro, também, que não sou contra as atitudes emotivas, as experiências extáticas. Gosto de um louvor alegre, de erguer as minhas mãos em adoração, fechar os olhos, adorar em espírito e em verdade, mas não posso fazer de uma experiência a regra geral . O maior problema está aí: adoptar a experiência pontual como regra.

Muita gente acha que o que é verdade é o que estão a sentir no momento. Conheço um rapaz, ex-membro de uma Igreja Batista, que, inclusive, substituía o pastor na igreja na ausência deste. Agora é Mórmon. Quer saber porquê? Simplesmente porque ele sentiu (é assim que os mórmons explicam as suas experiências) algo novo, diferente. Este rapaz deixava-se levar pelo sentimento e não pela Palavra, que é a base sólida para quem quer que nela busque a Verdade.

“Enganoso é o coração...” e “Santifica-os na verdade, a Tua Palavra é a Verdade”.

Há apenas duas opções:

- Coração, sentimento, experiência.

Ou,

- Palavra, verdade, solidez.

Muita gente tem escolhido a primeira. O que importa actualmente não é a verdade escrita, mas antes a verdade sentida(…).

A argumentação da igreja de hoje é fraca. Baseia-se no que se sente e, quando o argumento é baseado no que se sente, se quem ouve tiver a mesma argumentação, então estamos “fritos”. Recentemente passei por uma experiência interessante quando estava evangelizava, com um grupo da Igreja Metodista no Jardim Botânico, na Avenida Atlântica (Copacabana - Rio de Janeiro), paragem habitual de prostitutas, travestis, etc. Numa madrugada encontrámos um rapaz que nos contou a sua experiência: ele deixou as drogas e a vida pesada que levava depois de aderir ao espiritismo. Se a nossa argumentação estivesse baseada em sentimentos, o que diríamos: Amén?

Ontem mesmo recebi um e-mail de um irmão em Cristo que criticava um texto meu. A sua argumentação era que “determinada” igreja da qual ele é membro e que se enquadra no ministério “levítico”, tinha reunido recentemente 210 mil pessoas num estádio. Respondi-lhe tacitamente que o Padre Marcelo reuniu 650 mil pessoas no Aterro do Flamengo e que o Círio de Nazaré (maior procissão católica do mundo) realizado em Belém do Pará, reuniu 2.000.000 (isso mesmo: dois milhões!) de fiéis diante de uma imagem. E a minha pergunta é : estes factos legitimam a idolatria? É lógico que não! Uma regra básica de argumentação é que o mesmo tipo de argumento aniquila o seu igual, logo, se o número de pessoas que a igreja do referido irmão em Cristo reuniu foi de 210 mil, e ele utilizou esse argumento para defender o seu ponto de vista, logo, o maior número de pessoas nos eventos católicos dariam a estes a supremacia da argumentação . Cuidado então com os argumentos.

A nossa pregação e a nossa vida devem ser pautadas pela Palavra, ela é inerrante. Se os meus sentimentos me dizem algo e a Palavra me diz outra coisa diferente, fico com a Palavra.

InCrer é também pensar! por José Barbosa Júnior

(Adaptado ao português usado em Portugal por Ab-Íntegro)