sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Observar...

Gosto de observar a ordem em que os acontecimentos são relatados nos Evangelhos. Creio que desperdiçamos muitas mensagens quando nos atemos apenas aos acontecimentos em si, e não enxergamos suas entrelinhas. Deus Se revela nos flagrantes contrastes dessas passagens !

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Lucas nos descortina um episódio em que Jesus Se dirige à Jericó (Lc.18:35-43). Antes de entrar na cidade, Ele Se depara com um cego“assentado à beira do caminho, mendigando”,cujo nome é Bartimeu, de acordo com relato de outro Evangelista, Marcos. Depois de clamar insistentemente pela misericórdia do Filho de Davi, Jesus manda chamá-lo e restitui sua visão. Bartimeu, um marginal excluído da sociedade de Jericó , é a primeira pessoa a quem Jesus direciona Sua atenção.

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Mas ao atravessar os muros da cidade, Jesus Se depara com outro homem, pertencente à elite de Jericó. Enquanto Bartimeu vivia do lado de fora da cidade, Zaqueu, o chefe dos coletores de imposto, vivia luxuosamente na parte mais requintada de Jericó. Ambos eram cegos. Bartimeu sofria de cegueira física, enquanto Zaqueu de cegueira espiritual. Ambos deviam sua condição social à ganância. Um era vítima, o outro o algoz. Talvez jamais houvessem prestado atenção um ao outro, e sequer sabiam de sua existência. Porém ambos queriam muito ver Jesus. Lucas diz que Zaqueu “procurava ver quem era Jesus, mas não podia” (Lc.19:3). Não por causa de alguma deficiência visual, mas porque era nanico. A fim de avistá-lO no meio da multidão, Zaqueu tratou de escalar uma árvore, meter-se entre sua folhagem, e ali, discretamente, sem almejar qualquer atenção, esperou até que Jesus passasse. Veja a diferença gritante entre Bartimeu e Zaqueu. Não apenas diferença social, ou cultural, mas também comportamental. Bartimeu queria a atenção de Cristo, e por isso não poupou sua voz. Esguelou-se ao ponto dos discípulos rogarem que se calasse. Já Zaqueu preferia a discrição, a camuflagem de uma árvore, a preservação de sua imagem pública. De lá, ele podia ver sem ser notado, espiar sem se expor, numa espécie de vouyerismo desprovido de culpa. Afinal, um homem importante como ele não podia correr este risco. Jesus não hesita em mirar por entre as folhas da árvore e dizer: Desce depressa, Zaqueu! Hoje vou me hospedar em sua casa. [...]

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Por Hermes Fernandes *** Continuar a ler AQUI no Genizah