À hora a que escrevo estas linhas era suposto que alguns dos mineiros chilenos, que têm estado reféns de uma mina a cerca de 700 metros de profundidade, já estivessem à superfície e a abraçar amigos e familiares que por eles esperam ansiosos. Soube no entanto que o início da operação de resgate foi atrasada em duas horas. Estarei dormindo quando os mineiros estiverem a lutar pela sua vida em conjunto com aqueles que os tentam salvar. Esta é uma operação de grande risco e em que ninguém, dos que estão envolvidos na recuperação das vidas, quer falhar. Acompanharei por agora, em intercessão, toda a operação esperando que pela manhã, quando acordar, também estes homens acordem de novo para viver a vida a que aspiram junto dos seus. De permeio dei comigo a pensar que qualquer problema que estejamos a enfrentar neste momento não é nada quando comparado com o sofrimento e a incerteza destes homens quanto à sua vida e à possibilidade de a reaverem, porque é disso que se trata, reaver vidas suspensas a 700 metros de profundidade. Enquanto isto, especuladores financeiros, alheios ao sofrimento humano, sentados à frente de ecrãs coloridos, analisam tracejados e proseguem nos seus jogos de bolsa a dar ordens de compra e venda sobre matérias-primas que estes mineiros extrairam. O indicador sobre o enter pulsa a tecla como se de um gatilho se tratasse. Vidas anónimas que só são notícia, hoje, porque ainda estão vivos. Irão provavelmente, no futuro, continuar a ficar presas ao pulsar de um teclado pelo indicador de um burocrata que nem sequer sabe o que é uma mina. O meu voto é que tudo termine bem para os mineiros e que a estes lhes não venha ainda a ser pedido que comparticipem nas despesas pelo seu resgate.
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Jacinto Lourenço