Não me lembro se alguém me leu, nestes dois anos que leva de existência o Ab Integro, algum texto em que pudesse estar, ao menos dissimulada, na minha escrita, alguma intervenção político-partidária fosse ela de crítica, reprovação ou de aprovação de qualquer medida governativa ou da oposição; se o fiz, confesso que se me varreu da memória. Porventura vou hoje fazê-lo pela primeira vez. E, ao fazê-lo, isso não me vincula a nenhuma cor partidária ou tendência política. Faço-o na estrita condição de cidadão deste país no qual todos os dias se encontra uma nova razão para o deixar mais triste e mais deprimido e oprimido. Como se não bastasse o autêntico deboche e sem-vergonha do "assalto" às bolsas dos portugueses para pagar o desgoverno com que este "governo" nos brindou, nos últimos anos em que ocupou o aparelho do estado, e em que todas as ocasiões e situações serviram para esbanjar e gastar o que não podia, e premiar, com milhões, os amigos que pôs à frente das empresas públicas ou público-privadas, vem , a coberto de um orçamento em que toda a gente está fixada nas grandes linhas passando ao lado de outras, de menor impacto e mais camufladas, mas nem por isso menos execráveis no seu alcance, introduzir medidas absolutamente inconstuticionais, ilegais, descriminatórias e condenáveis no campo das isenções fiscais que abrangiam as diversas comunidades religiosas, no âmbito da lei da liberdade religiosa, retirando-lhes agora essas isenções. Há no entanto uma "honrosa" excepção: para a igreja católica fica tudo como estava. Isto é: a igreja católica continua a beneficiar dessas isenções...
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Ninguém me ouviria dizer nada, mesmo que eventualmente discordasse amplamente da medida, se ela fosse coerente e justa; quero com isto dizer, se ela olhasse as confissões religiosas, todas, pela mesma luneta. Mas não: a mão mesquinha do governo só se torna pesada para as confissões minoritárias, na linha, aliás, do que já tinha acontecido com a generalidade da proposta de orçamento para 2011 em que são os mais pobres, os mais frágeis e os mais fáceis de enredar pela malha do governo a receber a maior pancada nas suas frágeis e expostas finanças. Os mais fortes, os mais próximos do poder, os mais amigos dos governantes, os que poderão garantir, num futuro próximo, acredito, um bom lugar em qualquer empresa privada para os então ex-ministros deste (des)governo , esses não, esses nunca pagam a crise nem são por ela atingidos.
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A bondade do meu benefício de dúvida em relação a este governo há muito que se esbateu. Acabou mesmo. Ainda que correndo o risco de me acharem irresponsável, por mim o governo caía, e caía já. Entre este orçamento criminoso, e os tecnocratas do FMI, não sei o que será preferível. Acho que os portugueses, com ou sem orçamento, com ou sem FMI, estão dispostos, ouitra vez, a fazer sacrifícios para erguer o país do pântano em que todos os últimos governos o lançaram. Assim como assim, já andamos a mando da Alemanha há muito tempo...
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Que haja alguém, com um mínimo de bom senso, que olhe para o que se está a fazer, e faça , isso sim, nomeadamente, com que o governo cumpra as leis que ninguém revogou até agora. Se não pretender cumprir, que as revogue primeiro. Quando as revogar, que as revogue sem descriminações vergonhosas que nos ofendem gravemente enquanto cidadãos de um estado que se pretende igualitário para todos, cidadãos, entidades ou organizações, perante a lei, independentemente da confissão religiosa que os nortei.
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Jacinto Lourenço