De Bíblia na mão, com o braço bem erguido a mostrar a Palavra de Deus, foi este o primeiro gesto de um mineiro de meia idade mal se viu liberto da cápsula que o transportou desde as entranhas da terra até à superfície, ontem, ao final da tarde. Um outro, mais jovem, trazia, nas costas da sua t-shirt, inscritas as palavras do versículo 4 do Salmo 95 : "Nas suas mãos estão as profundezas da terra, e as alturas dos montes são suas". Assim demonstraram a sua gratidão por poderem reapossar-se da vida que um triste episódio resultante de incúria humana pretendeu tirar-lhes. Gratidão a Deus, autor e Senhor da vida, acima de tudo. Acredito que a força indómita de responsáveis e técnicos que trabalharam para a concretização destes momentos de grande alegria e manifestação de fé, assentou na certeza de que careciam também duma intervenção divina que permitisse que o engenho técnico e humano tivesse total fiabilidade. A Fidelidade de Deus ao esforço e determinação humana foi tremenda. Os medos foram afastados mal a operação começou. O que víamos nos rostos das pessoas eram sorrisos e certezas. Expectativa e aperto de coração, só os que o tempo de espera até abraçarem os seus amados lhes determinava.
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Sim, emocionei-me e sequei várias vezes as lágrimas de alegria que se soltaram dos meus olhos enquanto assistia em directo ao resgate dos 33 homens presos na mina chilena há mais de dois meses. Ao longo do dia de ontem foram muitas as ocasiões em que pedi a Deus pela vida dos 33 mineiros e dos diversos socorristas que foram ter com eles para os ajudar a sair. Pedi a Deus pelo sucesso da operação. Hoje dei-lhe graças porque tudo decorreu como era nosso anseio e expectativa, e Sua vontade, seguramente. Dei-lhe graças pela Sua Fidelidade.
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Ao ver as imagens que as televisões captaram, em várias latitudes do mundo, de pessoas que sorriam e choravam, como eu, de alegria, veio à minha mente a certeza de que todos os povos do mundo são meus irmãos, especialmente os que sofrem e os que arriscam as suas vidas, como os socorristas que desceram à mina, para ajudar a pôr um ponto final no sofrimento humano, mas também os milhões em todo o mundo que, sem conhecerem os mineiros, os enlaçaram de carinho e amor fraterno enquanto estes lutavam pela sua vida. Às vezes, o mundo, também pode ser um lugar feliz. Basta que percebamos que aquilo que nos separa é infimamente muito menos do que aquilo que nos une. E o que nos une, é o facto de todos sermos criação de Deus. Temos a mesma natureza e origem. Somos irmãos e filhos do mesmo Pai.
+ Jacinto Lourenço