quarta-feira, 2 de março de 2011

Breve estória de Quando os Alemães vinham de mão Estendida pedir Favores aos Portugueses...

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Adormeci e acordei hoje com a notícia a encher-me os ouvidos: José Sócrates e Teixeira dos Santos, quais frades mendicantes, vão a Berlim, depois de almoço, de mão estendida, pedir favores à "rainha da europa". Ou seja, vão mostrar a Merkel os trabalhos de casa e pedir que esta possa ser mais compreensiva e ter alguma condescedência com Portugal... Mas suspeito que ela os vai levar a comer umas bolas de Berlim, se é que por lá existe isso, e metê-los no avião de volta a Lisboa o mais rápido possível. É que, a fazer fé nas notícias que vêm da Alemanha, a "nobreza" teutónica não está pelos ajustes e diz que terá que puxar o tapete à chanceler se esta não for dura com os periféricos, que somos nós e mais uns quantos europeus que, pelos vistos não contam para mais nada do que para engordar o Pib alemão com a importação dos seus produtos.
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Mas as relações de Portugal com os alemães nem sempre aconteceram desta forma. Ou seja: outros tempos e outras situações houve em que alguns nobres alemães vieram pedir "batatinhas" aos portugueses. A coisa conta-se de um fôlego. Portugal era, em finais do século XV e princípios do XVI, e no contexto da europa de então, um país muito pouco populoso e com dificuldades em providenciar o seu povoamento. As razões para tal prendiam-se com várias causas, nomeadamente as da configuração geográfica do território, o seu posicionamento periférico e a instabilidade provocada pelas guerras entre o islão e os cristãos, particularmente no período da formação e da afirmação da nacionalidade, como diz José Vicente Serrão na obra "História dos Municípios e do poder local", do Circulo de Leitores. + Lamberte de Orques, um nobre alemão que se encontrava em Portugal à data de 1429, por razões que não vale a pena dispender aqui, apresenta ao nosso rei D. João I uma petição no sentido de se instalar definitivamente em Portugal, com a sua mulher e filhos e "gentes de outras nações" que ele faria deslocar para o reino no sentido de promover o povoamento da vila de Lavre ( que na actualidade integra o concelho de Montemor-o-Novo ). Pedia também a D. João I que lhe concedesse "privilégios, liberdades, franquezas e outras cousas necessárias para melhor povoamento da terra e proveito dos moradores d'ella" (1). Ora, este pedido vinha mesmo a propósito das necessidades da promoção do povoamento do território nacional e, por isso, a 17 de Julho de 1430, El Rei anui à petição e transforma Lamberto de Orques em donatário da vila e de várias léguas de território ao seu redor . A verdade é que nem D. João I nem Lamberto de Orques viveriam muito mais tempo e a própria doação de Lavre ao nobre alemão também não resistiria durante muitos anos.
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O filho primogénito do alemão, que vivia em Barcelona à morte do pai, apresenta a D.Duarte o seu direito sucessório de primogenitura e a reivindicação, baseada nesse direito, da doação régia feita ao seu antecessor, afirmando que pretendia vir instalar-se em Lavre. D. Duarte confirma a doação a João Lamberte e acrescenta às cláusulas da mesma que aquele deveria, no mínimo, "povoar o castello e o seu termo com 15 fogos de gente estranha que fosse de fora d'estes reinos", objectivo que teria que ser obrigatoriamente cumprido e verificado o seu cumprimento no prazo de três anos, para além de que o donatário não devia deixar, em situação alguma, que o número de povoadores diminuisse (2). O filho de Lamberto Orques achou que as cláusulas impostas eram de difícil cumprimento e renunciou à doação régia, cerca de um ano depois, entregando de novo Lavre e os seus termos à coroa.
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Ora esta história, que é real, poderia e deveria servir de exemplo e ilustração sobre a maneira de como se deve negociar com os alemães: mostrar-lhes quem é que manda cá em casa e quem é que dita as regras negociais; querem, querem, não querem , não querem, e vão à vida deles que a gente tem mais que fazer !! Mas suspeito que José Sócrates, que não é da estirpe de D.Duarte, e não tem, quase de certeza, conhecimento deste facto histórico, pois história de Portugal era coisa que não devia fazer parte do currículo da sua famosa licenciatura, vá apenas contentar-se em vir da Alemanha com umas "bolas de Berlim" enfiadas num saco de plástico com guardanapos de papel à mistura...
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É por isso que eu gosto de D. João I e de D. Duarte. Nada de cedências desnecessárias e inusitadas aos alemães, que eles não são de fiar, e para além do mais gostam de ficar com os nossos pastéis de nata e bolas com e sem creme a troco de mandarem para cá submarinos avariados e outro ferro-velho. Ora está bom de ver quem é que sai a perder... Nós, portugueses, como é óbvio.
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Por mim, proponho medidas drásticas de retaliação anti-alemã com efeito imediato: passar a designar as "bolas de Berlim" por "bolas de Lisboa"... A bem da nação, como dizia o outro... !!
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Jacinto Lourenço
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+ + 1) Henrique de Gama Barros, História da Administração Pública em Portugal nos Séculos XII a XV, Tomo II, Typographia da Academia Real das Sciencias, 1896 + + + + + + 2) Idem + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + +' + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + ++ + +