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ENSAIO A DECORRER SOBRE AS PALAVRAS
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As palavras são, por vezes, cruéis
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param
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na altura em que mais precisamos delas
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recusam-se
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a abrir o cálice como uma rosa entardecida
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que já não consegue segurar a beleza
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aos nossos olhos
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Por vezes as palavras
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fazem um intervalo, sem ponte
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entre o terrível e o encanto
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As palavras não têm o mínimo empenho
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na harmonia que está na cabeça
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do poeta, enquanto
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irrompem pelos dedos fora
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e depois hesitam
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e voltam-se para trás
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como se à quebrada porcelana
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do ovo a gema pudesse regressar
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As mais cruéis são aquelas
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que desaparecem depois
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para um lugar dentro de nós
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a que não podemos ir
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Por vezes, as palavras
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abrem o estore de uma janela
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sobre o mundo e depois
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recolhem a penumbra
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e escreve-se estrela, mas não
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era isso que queríamos dizer.
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14/3/2011
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Poema inédito de João Tomaz Parreira
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( Colaborador no Ab Integro )