segunda-feira, 25 de maio de 2009

Esvaziando a Tentação...

A liquefacção da alma humana é um facto tão real nestes dias de carência, de vazio de carácter e de perda da individualidade sadia, posto que a verdadeira individualidade tenha sido trocada pela persona de grife e de moda generacional a ser adoptada como personalidade, que, hoje em dia, já não existe mais o ambiente da tentação. Tentação pressupõe carácter, conteúdo, idéia, opinião, certeza, príncipio, fé e conduta segundo valores pessoais.

Sem tais coisas não existe tentação...

Ora, como a maioria desistiu destas coisas há algum tempo, no máximo fazendo gestão pública do aparecimento ou não da coisa considerada “tentação” do ponto de vista das convenções, o que resta é que as pessoas existem cada vez mais apenas ante o que possam ou não possam, consigam ou não consigam, alcancem ou não alcancem — pois, de facto, poucos são ainda os que, podendo, não façam o que possam; conseguindo, não realizem os que conseguiriam; e, podendo alcançar, desistam de fazê-lo apenas por uma questão de príncipio. Hoje o que vejo muito é gente zangada com Deus por não as haver ajudado a cair em tentação... Sim, raiva de Deus por não ter transformado a obsessão na tentação em uma feliz resposta à oração.
Pouca gente hoje diz não à tentação...
A oração existencial é: “E não nos livre da tentação, mas apenas das consequências de seu mal contra mim!”
A questão que ficou ante o fenómeno do estar tentado é apenas a constatação de que se pode ou não fazer aquilo... Digo “pode” apenas do ponto de vista da exequibilidade ao não do desejo...
Tentação tornou-se apenas uma alternativa que pode ou não ser abraçada, dependendo de se conseguir manter a tentação em segurança...

Caio Fábio