sexta-feira, 22 de maio de 2009

A Igreja por Detrás da Máscara

Em Mateus 16, do verso 13 ao 20, Jesus, enquanto caminhava para Cesaréia, aldeia ao norte da Galiléia, administrada por Filipe, perguntou aos seus discípulos sobre o que o povo pensava dele. Queria saber que identidade lhe atribuiam. A gente sempre se relaciona com o outro a partir da identidade que lhe atribuimos, independente dessa identidade atribuída corresponder ou não com a identidade assumida pelo outro. O povo atribuiu ao Senhor a identidade de profeta. É verdade que o compararam aos profetas mais contundentes que Israel já conheceu: Elias, Jeremias e João Batista. Mas profeta. O povo errou, entretanto, Jesus não fez nenhum comentário. O povo não sabia quem era Jesus, mas não se importava muito com isso, porque buscava o que Cristo lhes pudesse fazer, não, necessariamente, o que tivesse a lhes dizer. Tanto que Jesus teve de orientar os discípulos a ter sempre um barquinho à mão caso ele fosse comprimido pelo povo (Mc 3.9,10). Porque, como o povo percebera que bastava tocar em Jesus para ser curado, muitos arrojavam-se sobre ele para o tocar. Iam ao encontro de Jesus para buscar uma benção. De fato, ao invés de irem ao encontro de Jesus, iam-lhe de encontro. Jesus, então, foi obrigado a se proteger do povo que queria abraçar. Acho que podemos chamar a esse ajuntamento de A Igreja da Multidão. A igreja que não sabe quem é Jesus, só sabe e só se importa em saber o que Jesus lhe pode fazer, como lhe pode ser útil. Hoje, cada vez mais, há igrejas que parecem ter o mesmo perfil da multidão: sua mensagem acaba por incentivar um relacionamento utilitário com Jesus. Em contrapartida há a Igreja dos Discípulos. Pedro, à mesma pergunta, respondeu: Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo. Resposta perfeita, porque diz que Jesus era o Messias esperado, mas era mais do que se esperava, pois aguardava-se o maior de todos os profetas (era o que criam os mestres de Israel na época), entretando, Deus mesmo veio em carne e osso para salvar a humanidade. Essa Igreja sabe quem Jesus é. E o sabe porque o próprio Pai o revelou, como afirmou Jesus a Pedro. A Igreja dos Discípulos é a Igreja que o Pai deu para o Filho, porque pertence a ela aqueles a quem Jesus, pelo Pai, foi apresentado (Jo 6.44). A Igreja dos Discípulos sabe que a única maneira de relacionar-se corretamente com Jesus é através da adoração. A um líder a gente segue; a um chefe a gente obedece; a um profeta a gente ouve; de um mestre a gente aprende; a Deus a gente adora. Essa é a Igreja que o Filho edifica, porque esta fica sobre a Pedra, que é Jesus reconhecido como Deus que veio em carne e osso para nos salvar. E como nos ensinou o apóstolo Paulo, adorar a Jesus é imitá-lo (1 Co 11.1). E isso é fruto do desejo de ser igual a Jesus, e quanto mais a gente anda em direção a esse desejo, mais o Espírito Santo o torna realidade em nossas vidas (2 Co 3.18). A Igreja da Multidão está à cata das bençãos. Do tipo que até o adversário pode dar. A Igreja dos Discípulos está à cata das palavras de vida eterna; essas que só Jesus tem (Jo 6.68). A Igreja da Multidão busca crescer a todo custo, e para isso lança mão de todo e qualquer esquema. A Igreja dos Discípulos vai buscar as ovelhas de Cristo, as que reconhecerão a sua voz, para que haja um só rebanho e um só pastor (Jo 10.16); e, para isso insiste na exposição da verdade que liberta. A Igreja da Multidão promete o fim do sofrimento e bençãos materiais. A Igreja dos Discípulos promete a vida abundante e a ressurreição. A Igreja da Multidão convoca indivíduos a serem individualistas: a terem tudo o que, pela fé, possam conseguir. A Igreja dos Discípulos convoca indivíduos a serem pessoas comunitárias: a doarem tudo o que a fé, que liberta das posses, permite doar. A Igreja da Multidão exorta as pessoas a desfrutarem o mundo. A Igreja dos Discípulos exorta as pessoas a, irmanadas, transformarem o mundo. A igreja dos Discipulos está querendo mais da vida de Jesus para, na vida, ser cada vez mais como Jesus. Cada pessoa que se diz seguidora de Cristo; cada pessoa que se considera pregadora do evangelho; cada comunidade que se diz cristã precisa se submeter a esse gabarito, para descobrir de que referencial faz parte, ou de qual se aproxima mais: da Igreja da Multidão ou da Igreja dos Discípulos. Todos seremos tentados a buscar o que busca a Igreja da Multidão, mas não nos esqueçamos: o tesouro é Cristo e, com ele, vem tudo o que precisamos para ser como ele: gente como gente deve ser. No Reino de Deus Jesus é tudo em todos os súditos; e tudo o que os súditos do Reino querem ser é todo Jesus.