Hoje, quando se celebra o Dia Internacional da Mulher, não será demais colocar em realce o seu papel fundamental no plano das Sagradas Escrituras, e em particular no plano da sua envolvência no desenvolvimento dos diferentes ministérios cristãos na igreja primeva.
No período bíblico-patriarcal a mulher tinha, apesar de tudo, um papel enquadrado pelos valores culturais nas diferentes épocas e tempos históricos vividos no médio oriente caldeados pela velha herança Mesopotâmica, onde raramente lhe era destinado outro território para além do de ser mãe e cuidadora do lar e dos filhos. Poucas foram as mulheres que sairam da sombra da rectaguarda do homem da casa, fosse ele marido, filho em idade maior ou pai. A Bíblia refere algumas, pese embora sejam casos isolados e pontuais. A tradição, mesmo quando colocada perante padrões mais elevados de ordem espiritual, continuou sempre a ter um peso preponderente na família e na sociedade e assim se manteria até aos alvores do ministério de Cristo.
Aquilo que pudemos dizer é que Jesus colocou a mulher num plano muito mais elevado, mesmo se isso foi contra os ditames da tradição e os olhares reprovadores dos seus contemporâneos. Depois, o desenvolvimento da igreja e do cristianismo acentuaram esse papel fundamental, mesmo se posteriores interpretações abusivas de alguns escritos neo-testamentários procuraram atirar outra vez a mulher para detrás do biombo da história. Sombras e luz perseguiram sempre a emancipação da mulher e do seu papel nas sociedades. Digamos que aqueles que se sentiram sempre mais confortáveis com a subalternização das mulheres, mesmo até dentro da igreja cristã, pugnaram por eternizar a "idade das trevas feminina" até finais do século XIX e início do século XX. Curiosamente, foi a designada Revolução Industrial e a incorporação das mulheres como operárias, olhadas então sob a perspectiva de mão de obra barata, senão mesmo na maior parte das vezes semi-escrava, que contribuiu, de forma decisiva, nos tempos modernos, para que a mulher se libertasse dos grilhões do machismo medievalista a que estava submetida na generalidade das sociedades ditas mais desenvovidas.
Não podemos dizer que a emancipação seja um facto consumado para as mulheres, ao redor do globo, em todos os países, bem pelo contrário. Mas o que podemos e devemos dizer é que o Senhor Jesus Cristo nunca diferenciou ninguém pelo sexo, raça ou origem social e, aquilo que encontramos no seu ministério, como valor elementar, é a igualdade dos sexos no plano do relacionamento de cada pessoa com o Pai. Neste sentido entendemos que é impossível negar à mulher qualquer campo de actuação em sociedade e mesmo no plano mais restrito da igreja, pese embora, ainda hoje, muitos responsáveis ditos "espirituais" continuem a achar que só porque são homens têm o direito de se instituirem como reguladores da vontade de Deus, continuando a insistir numa exegese por medida e à medida dos seu interesses e mentalidades medievas. Para estes, o papel da mulher não pode ir além da procriação e da responsabilidade da casa de família. E depois ainda se arrogam de serem pessoas "espirituais".
A nossa esperança é que, a breve trecho, sejam dispensáveis as celebrações do Dia Internacional da Mulher por se ter atingido o plano da completa igualdade entre os dois sexos. Até lá, convirá lembrar que, em Portugal, as mulheres constituem a maioria da população. Também na frequência do ensino superior as mulheres se encontram em maioria no nosso país.
Que Deus abençoe todas as mulheres do meu país, e do mundo, neste Dia Internacional da Mulher.
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Jacinto Lourenço