segunda-feira, 29 de março de 2010

Tristeza Feita Mármore

No passado sábado, fui com a minha esposa ao cemitério. Ela queria visitar a campa onde repousam os restos mortais dos seus pai e irmão. Admito não ser frequentador de cemitérios, por várias razões, para além de que lhes não reconheço grande sacralidade, contrariando aquilo que recebi como herança cultural judaico-cristã que nos enformou a todos neste domínio. Enquanto a minha esposa cuidava de algumas coisas junto da campa dos nossos queridos, afastei-me um pouco e deambulei pelos corredores abertos entre as outras muitas campas que enchem o cemitério novo de Alverca. Fiquei admirado com a quantidade de gente jovem cujos restos mortais ali se encontram, muito jovem mesmo. Vidas ceifadas numa juventude breve.
Objectos esculpidos em mármore ou granito adornam as pedras frias e remetem para actividades que aqueles jovens desempenharam enquanto viveram: desporto e música, maioritariamente. Não sei explicar a razão ( embora intimamente possa avançar algumas tentativas de explicação ), mas a verdade é que eram mais os jovens do sexo masculino do que do sexo feminino que ali estavam assinalados em derradeiros memoriais familiares. Interroguei-me, sim, e de novo, sobre a efemeridade e fragilidade da vida que vivemos num mundo entre perigos, percalços e ciladas postas por um conjunto de situações em que voluntariamente nos envolvemos ou que nos envolvem a nós sem que contribuamos com alguma coisa para isso. Cemitérios são lugares de tristeza porque de separação, e não apenas para os que partem. Para as famílias fica a dor e o sofrimento provocado pela ausência dos seus queridos, mas muitas vezes também a incerteza sobre o que sobra do desenlace físico; o futuro, a eternidade e se a garantimos ou não, junto de Deus, a nossa presença junto do Senhor da nossa vida, uma vida não apenas terrena. Como cristão, confesso que, assaltado por estes pensamentos, me vieram as lágrimas aos olhos, enquanto desfiava as memórias inscritas nas lápides geladas de tristeza por aqueles que partiram. Senti-me responsável; não conhecia sequer um nome ou um rosto dos que ali foram enterrados. Todos eram jovens duma comunidade alargada de concidadãos meus, que habitavam na minha cidade ou nas freguesias a ela pertencentes. Sim sou responsável pela sua partida sem que eventualmente tenham ouvido sequer nomear o nome do Salvador e Redentor das suas vidas.
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Jacinto Lourenço