“ …Tu és o Rei dos Judeus? Respondeu-lhe Jesus : Tu dizes isso de ti mesmo ou disseram-to outros de mim? ” ( João 18:32,33 ).
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O texto acima reproduz uma pergunta de Pilatos a Jesus, e a resposta que lhe deu o Senhor. Pilatos, mais do que provavelmente, nunca tinha estado frente a frente com Cristo. Para ele , Jesus era apenas mais um Judeu que os sacerdotes lhe entregavam para ser julgado. E isso acontecia sempre que, na opinião dos responsáveis do Templo, a penalidade a aplicar aos “criminosos” excedia os limites da autoridade sacerdotal, como era o caso com o Senhor Jesus, na opinião dos sacerdotes, um “blasfemo” digno de morte, sendo que tal pena só podia ser aplicada pelos Romanos. No conceito dos responsáveis Judeus, que encaminharam Cristo até Pilatos, a sua consciência ficava “limpinha”. Descartavam-se do Mestre antes de celebrarem a Páscoa, que ocorria nessa altura, e a cuja celebração não pretendiam comparecer “contaminados”, e “desresponsabilizavam-se” da autoria material da morte do Senhor que recairia assim sobre César.
Apetece-me citar o texto “A Prisão Judaica”, noutro contexto, é certo, que o meu amigo João Tomaz Parreira publicou já há algum tempo numa revista cristã ( “Novas de Alegria” ) , e que a determinado passo diz: “Politicamente verificamos que muitos Judeus, na Palestina, querem o território bíblico, mas rejeitam o Deus que lhes deu ancestralmente a sua terra. Escavam nas raízes, julgam-se para todas as coisas o único testemunho da humanidade e o exclusivo instrumento da divindade, mas colocam Jeová fora dos seus planos”. Foram assim sempre, ao longo da sua história, os Judeus. Alimentando o preconceito de que “um escolhido” tem sempre a razão e a verdade do seu lado independentemente da forma como julga e avalia, e como vive. Citando de Novo J.T.Parreira, no mesmo texto, e que por sua vez cita outros pensadores, e aplicando agora aos cristãos nossos contemporâneos que possam viver um pouco à imagem do judaísmo um cristianismo impregnado de preconceitos, faço minhas as suas palavras: “o que vale não é tanto um credo cristão, mas muito mais os actos concretos dos cristãos”. Razão teria João Batista ( porque conhecia bem a intimidade do coração e do pensamento dos judeus), quando atirou aos Saduceus e Fariseus a frase: “raça de víboras (…) produzi frutos dignos de arrependimento e não presumais de vós mesmos, dizendo: temos por pai a Abraão…”. Por essa e outras razões, que tinham a ver com uma fé liberta e à margem da “linha do preconceito”, foi João Batista martirizado.
O preconceito fere, contamina, destrói e, como vimos pela Palavra de Deus, pode matar!
“Preconceito: Ideia, conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério. Obrigação de obediência inflexível a certas normas de procedimento convencional ou tradicionalmente estabelecidas. Estado de superstição de cegueira moral. Abusão, erro, prejuízo, que muitas vezes obriga a certos actos ou impede que eles se pratiquem”. É o que diz o Grande Dicionário da Língua Portuguesa – edição Círculo de Leitores.
Quando olhamos para o julgamento a que Jesus foi sujeito, é o que vemos. Um julgamento eivado de preconceitos; ideias formadas sem fundamento sério e obedecendo a procedimentos convencionais e tradicionalmente estabelecidos. Mas mais: vemos também um grande desconhecimento bíblico daqueles que diziam julgar pela bíblia, exceptuando, como é óbvio, Pilatos, que não tendo nenhum conhecimento de matérias bíblicas ou das realidades sociológicas mais profundas da nação que governava em nome de César, foi por isso confrontado por Jesus: “é isso que tu pensas mesmo, ou ouviste dizer por outros que eu era o Rei dos Judeus?” . Claro que Jesus sabia que Pilatos não podia imaginar o que traduziria, na realidade judaica, e no contexto bíblico e espiritual, essa frase: “Rei dos Judeus”. Claro que o Filho de Deus também sabia muito bem o que é que o preconceito estava a fazer em todo o processo do seu julgamento. Claro que Deus sabe que aqueles que são Filhos do Rei têm que apagar da sua vida os preconceitos para viverem perto da Glória de Deus.
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Jacinto Lourenço