segunda-feira, 8 de março de 2010

A Trágica História de Leandro

A trágica história de Leandro, a criança de 12 anos que se suicidou por ser vítima de acosso por parte dos seus colegas, faz-nos pensar sobre o tipo de sociedade que estamos a querer construir para o futuro. Segundo os psicólogos, os agressores são normalmente jovens que vivem situações familiares complicadas relacionadas com ausência de afecto, que sofrem intimidações ou algum tipo de abuso em casa, que estão sob uma constante pressão para que tenham êxito nas suas actividades, que são frequentemente humilhados pelos adultos ou que assistem a cenas de violência ou de intimidação entre os pais. Sabe-se que as crianças registam todos estes exemplos na sua memória e que os exteriorizam como uma forma de poder assim que surge uma oportunidade para o fazerem. Normalmente, as suas vítimas são os colegas mais submissos. Aqueles que são mais dóceis, mais tímidos, que são eleitos como "os escravos do grupo", que têm uma auto-estima mais baixa e que vão sofrendo as contínuas ameaças, insultos, tareias e humilhações em silêncio. Estes normalmente também não encontram em casa o apoio que desejariam, sabem que não há tempo para conversas e queixas e que apenas lhes resta o sofrimento e a angústia como forma de ir vivendo a vida. Em casos extremos, suicidam-se. Ou, melhor dizendo, "são suicidados". Este fenómeno não tem que ver com classes sociais, com pobres e ricos. E também não é aos professores que se deve imputar responsabilidades pelo desconhecimento ou falta de acompanhamento deste tipo de casos. A escola pode colaborar, ser um espaço de bem-estar, de sã convivência, de prevenção e de aviso. Pode ter mediadores, inclusive escolhidos entre os próprios alunos, e serem estes os que ajudam a identificar e a apaziguar os elementos mais agressivos. Mas a atenção ao comportamento das crianças e dos adolescentes começa, sobretudo, em casa, e ninguém melhor que os encarregados de educação sabe ou deveria saber o que se passa com os filhos. Perguntar-lhes apenas pelas notas dos testes é fazer-lhes sentir que esse é o único ponto que os torna dignos de atenção. Se tudo o resto não existe - a harmonia entre os pais, reuniões com amigos, actividades ao ar livre, desporto, fins- -de-semana fora com a família, refeições em conjunto, conversa, muita conversa -, o caminho mais certo é o da solidão, da alienação e da destruição. Erich Fromm disse-o e nunca é de mais repeti-lo: a ânsia de poder não é originada pela força, mas sim pela fraqueza. No dia 8, Dia Internacional da Mulher, é bom lembrar todas as mães que continuam a ser vítimas de várias formas de violência doméstica e que a sofrem em silêncio. Os filhos assistem. E um dia serão adultos.
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Por Maria de Lurdes Vale *** In Diário de Notícias Online