quinta-feira, 6 de maio de 2010

A Autenticidade do Ser

[ Título original do texto: O autêntico é livre de si mesmo ]
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Há um poder de libertação muito grande na autenticidade do ser. Uma das coisas que a religiosidade produz é a hipocrisia omissa. Diria que o religioso torna-se vítima da sua própria devoção. Na busca por mudança interior há a tentativa de transformar o exterior, e isso costumeiramente resulta na dissimulação e até simulação de carácter. O engajamento em trocar velhos hábitos tidos como impuros por atitudes condizentes com as regras de fé adoptadas é igualado ao arrependimento e entrega dos quais conclamam as boas notícias de Jesus Cristo, para os mais vis e repugnantes. Quando me esforço para mudar o jeito como falo, o tipo de roupa que visto, o tipo de amigos que tenho, a natureza dos lugares que frequento e como lido com as pessoas sem antes ter tido a essencial renovação do ser, estou apenas limpando o exterior do copo. Provavelmente, e muito provavelmente, a sua religião empurra-o para esse infrutífero caminho: adoptar novos preceitos de vida, nova indumentária, novos jargões e formulações prontas e a incapacidade de sustentar pensamento livre. Tudo isso sob a retórica de estar nascendo de novo. Ao passo que, com Jesus Cristo, a ordem das coisas é bastante diferente. Aliás, se há alguém que quebrou paradigmas sem conta foi Ele; Mas isso fica para outra explanação. Não me recordo de ler nos Evangelhos nenhuma narrativa que mostre Jesus aceitando pessoas sob a condição de mudança exterior. A mesma pode até vir a ocorrer, mas sempre em consequência de uma total reviravolta interior. O que carregamos no coração é que será reflectido na aparência. E não há falsidade que esconda isso por muito tempo, seja luz ou trevas o que existir lá dentro. Jesus não dizia, “venha para a minha igreja, mude de vida e receba meu perdão e aceitação”. O contrário, “receba meu perdão e minha aceitação, e isso mudará sua vida”. Um dos atributos dessa ordem é ser livre do status quo. Tornar-se autêntico mesmo que não signifique ainda pronto, totalmente santo e irrepreensível, é uma virtude pouco encontrada nos crentes. Como posso receber o perdão salvífico de Cristo sem exercer a disciplina da autenticidade? O autêntico vê pouca dificuldade na humildade. Assim, vê grande alegria no perdão reconciliável do Pai, em seu Filho. Sua honestidade para consigo mesmo o conduz a uma saudável transformação de dentro para fora. Eis, então o problema do religioso que aprendeu a mudar como vive sem antes receber a Vida dentro de si. Acometido da pressão de parecer santo e ungido para os outros, apodreceu seu interior pelo preço de ostentar parecer o que ainda não conseguiu ser. Portanto, vive preso a si mesmo.
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Por Thiago Mendanha *** Via Hermes Fernandes