A minha esposa desafiara-me, no dia anterior, para uma vespertina caminhada no apetecível passeio fluvial de Alhandra, encostadinho ao tejo. Não era uma novidade para mim, já a fizera em muitas ocasiões anteriores movido pelas mesmas razões: "desenferrujar" o físico e "limpar" a cabeça.
No regresso do percurso cruzamo-nos com um grupo de várias dezenas de pessoas que, pelo aspecto, se dirigiam a pé para Fátima. Chamam-lhe "peregrinos" !
Não quero deter-me sobre a semântica da palavra "peregrino", prefiro ocupar-me sobre o que vão estes magotes de gente fazer a Fátima.
O fenómeno de Fátima, como bem sabemos, resulta da fabricada suposição de que 3 crianças assistiram à aparição da virgem Maria. Do ponto de vista bíblico e do relacionamento de Deus com os homens, isto é um facto não só insustentável como aberrante. Nenhuma investigação do foro teológico e exegético pode colocar a Palavra de Deus a dar cobertura a semelhante acontecimento. E não é porque Maria não tenha tido um papel significante e significativo no plano de Deus e seja , enquanto mãe de Jesus e nossa irmã na fé, credora do mais profundo respeito, como sucede com outras personagens bíblicas, mas sem que isso implique a nossa adoração, que não é aliás exigida, pedida, ou sequer sugerida, em qualquer passagem das Escrituras. A adoração de Maria, ou da sua imagem esculpida em madeira ou noutro material, pelos católicos romanos, só pode ser configurada, à luz da Bíblia, no plano da idolatria pura e simples. E esta é referida e condenada em variadíssimas passagens bíblicas. O Papa Ratzinger, na qualidade de grande teólogo, como o apelidam os vaticanistas, saberá certamente daquilo que falo. Ele sabe, que eu sei, que ele sabe que Fátima é mais do que uma mentira: é um logro, um embuste religioso e sociológico !
Sabendo isto, Ratzinger devia naturalmente recusar-se ( se fora um cristão ) a vir a Fátima para alimentar a crendice popular. Ratzinger deveria imediatamente denunciar esta mariolatria doentia e pecaminosa. Acabar com este espectáculo e folclore degradantes. Pugnar pela pureza do evangelho de verdade e por anunciar que só existe um advogado para com Deus: Jesus Cristo!
Mas Ratzinger não só não o irá fazer como se prepara para contribuir, com a sua presença, para alimentar e sustentar o embuste. É bom que saiba que Deus não se deixa escarnecer.
Ocorre-me, entretanto, que os evangelhos, quando relatam o encontro de Pedro ( de quem o Papa se diz herdeiro ) com Cornélio, nos informam sobre a atitude do Apóstolo para com o centurião quando este se lhe arrojou aos pés para o adorar: mandou Pedro , de imediato, que ele se levantasse e informou-o de que também era homem, um homem como qualquer outro, como eu e como Ratzinger. Mas sendo conhecedor desta passagem bíblica, Ratzinger, mesmo assim, aceita tornar-se objecto de culto, disputado seguramente a Maria, por parte de milhares de pessoas que se afirmam peregrinos só porque caminham centenas de quilómetros a pé. Qualquer teólogo de 3ª categoria seria capaz de elucidar o Papa, que vem a Portugal, e os "peregrinos" , que já cá estão, sobre estas verdades.
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Jacinto Lourenço