segunda-feira, 30 de março de 2009

Paradigmas Cristãos Nas Assembleias de Deus em Portugal

1ª Convenção de Obreiros das Assembleias de Deus em Portugal, 1939 Fotografia original do arquivo histórico de JTP

(Título Original: Convenções: Um Nome para a Unidade)

Paulo sabia que a unidade era um vínculo nos alicerces do cristianismo. O apóstolo queria que as igrejas locais estivessem firmes em um só espírito, como uma só alma(Fl.1,27). Só assim, lutando juntos, o que chamou de «fé evangélica» se edificaria e manteria. Nas relações humanas, sociais e religiosas entre os crentes, digamos assim, nada estava fora do alcance deles, nada se situava noutro mundo. «Rogo a Evódia, e rogo a Síntique que pensem concordemente, no Senhor»- esta recomendação traz Paulo ao domínio do quotidiano dos crentes em Filipos.(4,2)

Pensar concordemente, pensar o mesmo, orientar a visão para um objectivo comum, fortalece as igrejas locais, é também uma função das Convenções. Têm de igual modo uma função fundadora e, por isso mesmo, impulsionadora.

Nos dias 18 a 22/8 de 1921, em Belém do Pará, realizou-se uma primeira Convenção Regional das Assembleias de Deus nesse Estado. O objectivo prioritariamente missionário dessas AD, já levara por diante o seu escopo ao enviar de Belém para Portugal o pioneiro pr.José de Matos. Já antes o haviam feito, enviando em 4 de Abril de 1913 o primeiro José, o missionário Plácido da Costa- “um português abridor de caminhos para o Evangelho”.

Em Portugal, Lisboa hospedava a sua também primeira Convenção de Obreiros para ajudar a preparar os obreiros existentes vocacionados para expandir a Obra de Deus e o Movimento Pentecostal a partir desse ano de 1939. A mesma incluia aqueles referidos obreiros consagrados do outro lado do Atlântico. E naturalmente os missionários oriundos do norte da Europa, principalmente o casal Ingrid e Tage Stahlberg.

As Convenções de Obreiros ( para se distinguiram das grandes Convenções Anuais de verão que se realizavam ainda na década de 50 em Nyhem, na Suécia) (1), constituiram-se dessa forma como algo oposto aos conclaves fracturantes, onde cada pessoa leva a sua «ideia». Não há moções, como no mundo da política partidária, porque o que é suposto unir, pode também fracturar. Ao invés, deve haver «assuntos de ordem prática e espiritual e de palpitante interesse»- como escrevia há 50 anos o pr.João S.Hipólito, em “Novas de Alegria” de Julho de 1958.

Esta peça jornalística, que a revista NA trouxe a lume naquela data, relatando o que foi a Convenção Pentecostal, realizada em Lisboa, na sede da Assembleia de Deus local, nos dias 7 a 14 de Maio, amplia-nos a visão hoje, passado meio século, sobre a importância que têm as Convenções de Obreiros. E como o Movimento Pentecostal se foi edificando, nas suas estruturas eclesiais - ligando o conjunto de igrejas autónomas locais - e teológicas- preservando as doutrinas bíblicas e o pensamento pentecostal, conforme o Novo Testamento.

A Convenção não mudou paradigmas, ela própria era substantivamente o paradigma da unidade das Assembleias de Deus.

Essa foi, por outras palavras dessa época, no tempo do princípio, a conclamação geral do nosso Movimento apontando o caminho da Unidade. Por isso afirmamos que Convenção é nome da Unidade, do que é multiplo mas tende a afirmar-se único e integro, no contexto do Movimento Pentecostal das Assembleias de Deus – as igrejas locais. Foi para prosseguir o estabelecimento deste princípio e desejando conservá-lo para o futuro, certamente, que saiu um artigo no página Ecos Redactoriais da revista «Novas de Alegria», nº 185, de Maio de 1958, sob o título “A Convenção”.

Alguns parágrafos. Na década de 50 «O verdadeiro Movimento Pentecostal é um vivo protesto contra toda a forma de mundanismo, modernismo, clericalismo.(...) Dentro da “Assembleia de Deus” como commumente é designado o Movimento em Portugal, há uma verdade bíblica de imenso valor: a independência e a integridade da igreja local.» « Não é numa Convenção que se determina o futuro da Obra. Há coisas indispensáveis que necessitamos ventilar, e unidos podemos fazer melhor do que separados, por exemplo no que diz respeito à nossa literatura, missão, etc., mas não é das atribuições da Convenção determinar sobre estas coisas. O alvo da Convenção é mais espiritual, para não dizer absolutamente espiritual.»

Tratou-se de uma peça jornalística vigorosa e inspirada. E à distância de meio século, parece-nos contudo um artigo datado. Se não vejamos, numa análise de conteúdo objectiva.

. Autoria do texto. Surge em bom rigor jornalístico como sendo um redactorial, implicava o director de NA. É um artigo de fundo não assinado. Todavia, pela “ficha técnica”, a direcção espiritual da revista estava a cargo do pr.Tage e a «formal» do pr.Alfredo Machado. Comparativamente a outros escritos, sobretudo o livro «O Mistério dos Desaparecidos»(2), inclinamo-nos para a autoria de Tage Stáhlberg. Este entendia que designações denominacionais “não eram penhor de preparação para a segunda vinda de Cristo” ( pág. 64). Neste clássico sobre o arrebatamento da Igreja, no contexto desse acontecimento Tage escreveu «Não havia Baptistas, nem Metodistas, Congregacionalistas nem Pentecostais, etc., havia apenas Crentes».

. O corpo do Texto. Num tom de autoridade, o artigo valoriza a igreja local, a sua autonomia desde que implementada num crescimento equilibrado e harmonioso dentro do ensino inspirado pelo Espírio Santo ao apóstolo Paulo. «Qualquer igreja local tem de verificar se a sua actividade está de harmonia com o Novo Testmento». Considerava-se que o Movimento estava no meio de um Avivamento, como referem as notas do pr.Tage coligidas pelo nosso saudoso amigo pr. Carlos Baptista(3). «Nós temos a ousadia de dizer que o avivamento chegou a Portugal com os primeiros missionários pentecostais» (Pág 67) . Avivamento não anda desligado da harmonia. Para esta harmonia – refere o histórico redactorial-, «que é uma das condições para o progresso espiritual da igreja local», os «chamados Pentecostais» deveriam ter em conta a necessária e concludente realização da «nossa Convenção».

Desta valorização da assembleia de obreiros, pastores, evangelistas, anciãos idóneos, segundo o autor do texto, surge a proeminente razão da escrita do artigo. «Portanto, amigo e irmão pastor ou evangelista: ora ferverosamente pela Convenção, prepara-te como se fosses o único orador e vem, no poder do Espírito Santo, reunir-te connosco na luta contra o mal! Esperamos grandes coisas da parte do Senhor». O redactorial em apreço, estruturou-se numa estratégia espiritual e prática, teve a oportunidade de sair no exacto número de NA coincidente com a realização desse evento.

Curiosamente, diga-se que havia até um carácter «ecuménico», uma vez que as Convenções eram «francas não só para Obreiros das Assembleias de Deus, mas para cada pastor que deseja estudar e penetrar mais na Bíblia». ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­_____________________________________________________________ História das Assembleias de Deus no Brasil, Emílio Conde, 1960 (1)-“A Visit to Scandinavia”, The Pentecostal Evangel, nº 23, 18/5/1951 (2)-Edição da Assembleia de Deus, Lisboa, (3ª), s/d (3)-Milagres de Deus em Portugal, Edições NA, 2002

Por João T.Parreira In Papéis na Gaveta