quinta-feira, 2 de abril de 2009

Nefertiti Esconde as Rugas

( Fotos jornal El Mundo )

Busto de Nefertiti esconde as rugas da rainha egípcia

O rosto icónico da primeira mulher de Akenaton, desenterrado pelo alemão Ludwig Borchardt em 1912, não mostra a verdadeira face da "beleza do Nilo". Mas esta está imortalizada em pedra por detrás do gesso pintado e foi agora revelada graças a uma tomografia computadorizada. Este exame mostrou ainda algumas fissuras no busto de valor incalculável.

O nariz tinha um ligeiro alto e os olhos eram menos profundos. As maçãs do rosto não eram tão proeminentes e as rugas nos cantos da boca e na face eram mais visíveis. O verdadeiro rosto de Nefertiti, a mulher do faraó Akenaton que viveu há mais de 3300 anos, esconde-se por detrás do seu famoso busto, exposto em Berlim. A "beleza do Nilo" não era afinal perfeita.

"É possível que o busto de Nefertiti tenha sido encomendado [pelo próprio Akenaton] para representar Nefertiti de acordo com a sua percepção pessoal", indicou Alexander Huppertz, director do instituto Imaging Science, em Berlim, na edição deste mês da revista Radiology. Este verdadeiro face lifting foi revelado graças a uma tomografia computadorizada.

O busto de 50 centímetros foi descoberto em 1912 pelo alemão Ludwig Borchardt, durante uma escavação ao estúdio do escultor real Thutmose, em Amarna. Por detrás do gesso pintado está uma estátua de pedra. "Até realizarmos o teste, não sabíamos qual era a profundidade do gesso ou se havia uma segunda face por debaixo. A hipótese era que a pedra por baixo era apenas um suporte", disse.

Mas os testes refutaram essa hipótese. "O rosto escondido de Nefertiti não era anónimo, mas uma escultura delicada feita por Thutmose", afirmou Huppertz, citado pela agência alemã DPA. Essa escultura foi depois alterada quando foi colocado o gesso. "De acordo com os ideais de beleza do período de Amarna, as diferenças tiveram efeitos positivos e negativos e podem ser lidas como sinais da individualização da escultura", indicou o perito alemão.

Nefertiti (1390 a.C a 1360 a.C) foi a primeira mulher do faraó Akenaton, famoso por ter sido o primeiro a renunciar ao politeísmo egípcio e a adorar um único deus, o Sol (Aton). Ao contrário de outras rainhas, era representada nas pinturas egípcias com a mesma proporção e tamanho que o faraó, levando os egiptólogos a afirmar que desempenhava também um papel político.

Esta foi a segunda vez que a estátua com 3300 anos foi submetida a uma tomografia computadorizada. Mas a tecnologia evoluiu muito desde 1992 e agora foi possível não só descobrir o verdadeiro rosto de Nefertiti, mas também o que pode ser feito para conservar este icónico busto. "Diferentes fissuras paralelas à superfície foram encontradas nos ombros, na parte inferior do busto e atrás a coroa", escreveram os peritos.

"A tecnologia de tomografia computadorizada não invasiva e as ferramentas de processamento tridimensionais permitem-nos um maior conhecimento da composição interna e do estado de conservação da escultura. Esta informação contribuirá em grande medida para a preservação desta antiguidade de valor incalculável", disse.

O busto de Nefertiti é uma das cinco antiguidades que o Governo egípcio gostaria de ver devolvidas ou pelo menos emprestadas para a inauguração do novo museu nacional, em 2011. Algo que a Alemanha já recusou. A peça, actualmente exposta no Altes Museum de Berlim, será uma das estrelas na reabertura do vizinho Neues Museum, em Outubro.

Por Susana Salvador

In Jornal Diário de Notícias Online de 01 de Abril de 2009