terça-feira, 28 de junho de 2011

Um Mundo muito Estranho...


Pensava que havia um limite para a surpresa; que num mundo em que o homem domina as tecnologias e consegue prever uma grande parte dos acontecimentos à sua volta, não havia já grande lugar para surpresas, tirando aquelas com que a natureza nos surpreende tantas vezes pela negativa com catástrofes arrasadoras.

As ciências sociais andam há anos a tentar convencer-nos de que o ser humano é, do ponto de vista comportamental, um ser previsível; eu estou naquela situação de querer acreditar, face a um conjunto de dados estatísticos que me dizem que sim, mas ao mesmo tempo a querer duvidar face a um conjunto de dados aleatórios que me querem convencer do contrário. Podemos sempre dizer que o homem é ele mais as suas circunstâncias, mas isso era também reduzir o carácter humano à exposição da volatilidade das causas externas que determinam as suas escolhas. Mas enfim, não sou dessa área de ciência e é melhor ficar-me pela observação de alguns factos estonteantes que insistem em negar a previsibilidade do ser humano.

Era suposto que um pirata informático, que lesou gravemente uma empresa e milhares de clientes dos produtos dessa empresa espalhados pelo mundo inteiro,  tivesse o único destino lógico que era ser preso, julgado pelos seus actos e condenado em conformidade com a gravidade dos mesmos. Mas não, aprendemos que não, que nesta era da globalização, um pirata informático que assalta, rouba e desvia interesses económicos e  dados pessoais de empresas e milhares de pessoas acaba, em consequência disso e em primeiro  lugar, por ser premiado, depois logo se verá. Foi o que aconteceu com o pirata informático que assaltou e roubou dados das empresas  Sony e o dos seus clientes da PS3  bem como da  Apple e do seu produto iPhone e que foi contratado o mês passado pelo Facebook, segundo informou o conceituado New York Times. Era previsível que isto acontecesse ? Talvez sim, mas só depois de passar uns anitos à sombra, longe de qualquer computador ou telemóvel e a receber aulas diárias de reinserção social com o objectivo de aprender de que ser pirata e devassar ou roubar os outros é crime.

Por outro lado, e numa vertente em que a lógica e a racionalidade nos pareceriam um exercício mais fácil e evidente, esta coisa a que chamam União Europeia decidiu, embora ninguém o tenha assumido em voz alta e publicamente, que a Grécia e todos os outros periféricos não fazem falta nenhuma ao concerto europeu e que a europa ( a deles ) é só para os ricos e poderosos. Bom por mim nada a opôr. Caindo esmagada pela  bota cardada da  europa dos ricos, a europa do sul e mais um ou outro país do norte mas não menos periférico do que os dos sul,  eu vou querer ver quem é que os ditos países ricos vão canibalizar a seguir. A Grécia,  berço desta civilização ocidental, e o povo grego, estão à beira de entrar em ruptura total, e eu até acho que o pior nem sequer é a ruptura económica, o pior são a ruptura social e civilizacional de todo um povo que deixa de acreditar em si próprio e em quem o rodeia, especialmente aqueles que se dizem seus parceiros. Mas a Grécia tem culpas pela situação que vive ? Não, a culpa é da cupidez de quem a tem governado, de quem era suposto e previsível esperar-se honestidade e clarividência na direcção dos destinos de um país charneira da dimensão cultural e civilizacional desta europa sem tino nem destino, que se apronta para participar no festim de canibalização dos gregos e  que acaba por nos dar indicações preocupantes sobre nível de imprevisibilidade da actuação dos ser humano.

Olhando para trás, para a história, só temos motivos para nos preocuparmos com o uso que a humanidade faz do livre-arbítreo que lhe foi dado.

"Alegra-te, mancebo, na tua mocidade, e anime-te o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas Deus te trará a juízo."

( Eclesiastes )



 
Jacinto Lourenço