quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Vertigem da Aventura...


Alguém me mandou por email o Programa do Governo que foi entregue ontem na Assembleia da República. Não vou ler, não tenho pachorra que sobre para isso, até porque já conheço o seu conteúdo... Para além do mais, ele configura e promete, de certeza, uma aventura, a aventura neo-liberal de Passos Coelho e dos  seus muxaxos, sôfregos por entrarem em jogo num campo de onde estiveram ausentes durante seis anos. Claro que se percebe que na actual conjuntura o papel de qualquer governo não é fácil e os mercados vão querer que alguém lhes diga, em pouco tempo,  que está tudo no bom caminho, que o seu rico dinheirinho está acautelado e que podem dormir descansados nos seus belos leitos de dossel. E nós, os portugueses, os mesmos que sempre trabalharam para sobreviver e engrossar as contas dos tais mercados internos e externos, e que por isso iremos ter um sono ainda mais  sobressaltado,  teremos que garantir esta dinâmica socio-económica que irá continuar a tornar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres na vertigem e na voragem das aventuras neo-liberais que irão querer fazer de Portugal o exemplo de um "cão bem comportado" que, levado pela trela,  obedece à voz do dono.

Mas esta estranha organização europeia a que pertencemos, e que mais parece um "saco de gatos",  vai de aventura em aventura e está sedenta do saque. Veremos como lhe correm as coisas hoje na Grécia. A queda da Grécia, a acontecer, pode desencadear uma mudança de paradigma  sócio-económico em toda a europa, a tal do "saco de gatos". Clivagens ou rupturas repentinas são muito dolorosas para os povos e pouco desejáveis e o ideal é que as mudanças necessárias se façam paulatina e prudentemente. Não me parece que seja isso que possa vir a acontecer, mas desejo, mais que tudo, estar errado neste raciocínio. Em qualquer dos casos,  perderá sempre mais quem mais tiver. Sofrerão muito mais os mesmos de sempre, os que têm quase nada para perder do ponto de vista económico e que sobrevivem do seu trabalho, os tais laboratores com que se designavam na idade média aqueles que só podiam esperar ter um trabalho para se alimentarem, engordarem as barrigas e os bolsos dos senhores e pagarem as dízimas à igreja. No fundo e numa outra dimensão, às vezes parece-me que se está em regressão para a  era da idade das trevas. Este mundo não muda se os homens não mudarem,  e estes só mudam se deixarem que Deus os mude. Podem até existir outras alternativas, mas nenhuma promoverá mudanças de fundo eficazes e duradouras.

Jacinto Lourenço